Certamente vocês já ouviram falar em nômades. Antigamente era mais relacionada aos agricultores, que iam de um lado para outro em busca dos melhores lugares para plantar, colher e criar animais.
Existe também uma associação àquelas pessoas que vivem por aí, sem moradia fixa, passando curtos períodos de tempo em cada lugar, com muito desapego e, muitas vezes, vistas com bastante preconceito. Coisa do passado.
Mas agora eles voltaram com tudo, claro que repaginados, atualizados e em versão 4.0. Pois é, os nômades digitais estão aí e exercendo as tão faladas profissões do “futuro”.
Unir o trabalho com viagens, fazer do mundo a sua casa, em cada parada conhecer novos locais, culturas e amigos. É assim que essa galera vive e isso é possível, pois em muitas profissões basta que você esteja conectado na rede para que desempenhe suas tarefas, geograficamente não importa de onde isso vá acontecer.
Não podemos confundir com quem desenvolve seu trabalho em home office ou ainda aqueles que viajam frequentemente, mas tem uma residência fixa. O nômade digital está em movimento constante.
Esta modalidade de trabalho ganhou tamanha proporção, que diversas cidades pelo mundo já se adaptaram e oferecem infraestrutura com internet de boa conexão e alta velocidade, cafeterias e restaurantes com espaço compartilhado de trabalho, além dos já conhecidos coworkings. No Brasil, Florianópolis, no litoral de Santa Catarina, se destaca.
Após 2020 diversos países vêm facilitando vistos para atrair estes profissionais. Se antes disso era ilegal trabalhar com visto de turismo em alguns países, hoje se reconhece a necessidade de força de trabalho para recuperação da economia.
A Alemanha oferece um visto de residência de até três anos. Antígua e Barbuda, no Caribe, garantem dois anos com o The Nomad Digital Resident Visa. Já nas Bahamas, um programa de assistência permite trabalhar de forma remota em suas 16 ilhas e, assim como estes países, cerca de 20 outros têm seus atrativos. Entre eles estão lugares interessantes, como as Ilhas Cayman, Estônia, Emirados Árabes, Cabo Verde e Islândia.
Embora tudo pareça uma grande festa, e passe a imagem de tranquilidade extrema, essa não é bem a verdade. Geralmente, os nômades digitais trabalham em contratos PJ (Pessoa Jurídica) e precisam garantir suas entregas nos prazos para receber e pagar suas contas. E, ainda, diferente da modalidade CLT (popularmente conhecida como carteira assinada), alguns benefícios como licenças e férias não são remunerados. Para que se possa parar alguns dias é preciso muito planejamento e antecipação de entregas.
Sem falar na sazonalidade. Hora se tem muita demanda, hora falta trabalho, o que resulta na oscilação da renda. Como tudo na vida, existem os prós e os contras.
As profissões de base tecnológica permitem mais mobilidade e favorecem a vida nômade. É o caso dos designers, produtores de conteúdo, gestores de tráfego e mídias digitais, ilustradores e desenvolvedores, mas quase nada impede que investidores, fotógrafos e escritores um pouco mais estruturados também possam se lançar pelo mundo.
Em agosto de 2021 foi realizado um levantamento, pela plataforma de recrutamento GeekHunter, concluindo que dos mais de 700 profissionais da área de tecnologia do estudo, 78,2% preferem o trabalho remoto.
Podemos afirmar que esta é uma das principais mudanças na relação de trabalho dos últimos tempos: entendemos que o mundo pode ser nosso escritório.
Oportunidade não só para quem quer sair da rotina e se aventurar pelo mundo, mas também para as cidades e atividades locais, que podem se estruturar e receber esta demanda em crescimento exponencial.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria e da Espacio de Color, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera e voluntário da Singularity University