Recentemente, o Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgou um levantamento sobre a participação dos diversos setores do mercado no PIB brasileiro. Logo em seguida, muitas matérias e artigos foram publicados pelos mais variados veículos e, em minhas leituras diárias, fui impactado por alguns deles, que me despertaram a atenção pelo tema, que gostaria de trazer para nosso artigo desta semana.
O primeiro ponto que me chamou a atenção é o fato de divulgarem um dos dados de forma depreciativa. O que entendemos quando nos deparamos com um artigo cujo título é: “Produção industrial encolhe 20% em 10 anos e enfraquece a economia”? Pois bem, o incômodo me fez querer entender melhor este indicador e o que ele realmente significa.
É importante dizer que esse dado se refere à indústria de transformação (setor manufatureiro) e que, historicamente, a indústria vem perdendo sua participação no PIB, que caiu de 27,4% para 20,5% entre 2010 e 2020, assim como a participação da indústria geral (que inclui extrativa, construção civil e atividades de energia e saneamento) apresenta retração e, ano contra ano, vem atingindo novas mínimas.
Para ilustrar nossa conversa, em 1947 (primeiro ano da série histórica das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) a representatividade da indústria de transformação no PIB brasileiro era de 13,57%, atingindo seu ápice em 1985 com 24,48% e chegando em 2021 a 11,3%.
Outra informação necessária é que este é um fenômeno mundial. A indústria manufatureira vem perdendo sua representatividade no PIB, não apenas no Brasil, e isso ocorre porque estamos vivendo o processo de desindustrialização, o que é natural diante de tantas atualizações impulsionando o mercado, como a alta absorção da tecnologia, incentivo à inovação, novos mercados e novas tendências na relação de consumo e no comportamento do consumidor.
Embora afetados pela pandemia, durante o processo de desindustrialização ganharam relevância os setores de serviços nas áreas de Saúde, Educação e de Tecnologia e Informação. O Agronegócio também viu sua representatividade alavancar nos últimos anos, saindo de aproximadamente 5% em 2019 para 8% em 2021. Podemos atribuir este crescimento a dois principais fatores: a demanda por alimentos se manteve alta, assim como a adesão à tecnologia, que proporcionou ganho em produtividade para o setor.
Quando avaliamos o indicador de vagas formais na indústria o susto é inevitável. É grande a redução do número de empregos, mas é importante também refletirmos se este ainda é um indicador relevante para avaliação da economia e do desenvolvimento, além de ser obrigatório entendermos para onde e como estão migrando estes trabalhadores.
Temos indicadores que mostram crescimento nos registros de MEI (Microempreendedor Individual), evidenciando a formalização de empreendedores. As Juntas Comerciais também registram grande número de novas pequenas e médias empresas, assim como as entidades de fomento oferecem uma ampla quantidade de cursos em prol do desenvolvimento do mercado.
E, como em toda mudança, existem quebras de paradigmas e desconfortos.
As transformações não ocorrem apenas no setor industrial. Recentemente, uma rede de supermercados no interior do Estado de São Paulo anunciou a implantação dos caixas sem operadores (o cliente passa suas compras, paga e embala). É uma tendência e o processo vem sendo validado em diversos lugares do mundo.
Para os empresários é uma inovação que impacta na experiência do cliente, na gestão dos processos e pessoas, otimização de recursos e, claro que em médio e longo prazo, no resultado financeiro da empresa. Estamos falando de automação no varejo.
A função do operador de caixa gradativamente deixará de existir, como vem ocorrendo com diversos outros cargos e ocorreu com telefonistas, operadores de telégrafos e professores de datilografia. Mas, em contrapartida, diversas outras profissões surgem a cada dia.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria e da Espacio de Color, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera e voluntário da Singularity University