Há tempos venho questionando sobre o preparo das próximas gerações para o mercado de trabalho. Diante de tantas evoluções, o sistema educacional insiste em manter suas tradicionais metodologias e diretrizes, muitas vezes no contrafluxo da realidade. Precisamos de atualização no modelo de negócios da educação, ajustes nas grades curriculares, maior aproximação do meio acadêmico com o mercado (teoria + prática).
Os dados da pesquisa da Companhia de Estágios, consultoria especializada em programas de estágio e trainee, lançada em dezembro de 2021, reforçaram meu sentimento. Ela revela que 60% dos jovens estagiários não se sentem preparados para o mercado de trabalho e, vejam que interessante, destes, 39,7% acreditam não ter experiência e 19,2% gostariam de ter um currículo melhor.
Diante destes dados, vem uma pergunta: “Ora, se são estagiários, como poderiam ter mais experiência? Não seria esta uma das funções dos programas de estágio?”.
Olhando para a outra face desta moeda, é impossível não pensar em duas outras possibilidades que contribuem para este cenário. Uma delas é que muitas empresas buscam nos programas de estágio uma economia de mão de obra e os alocam em funções diversas, sem se preocuparem em transferir conhecimento, gerar aprendizado e prepará-los para o mercado. A outra trata do alto nível de exigência das empresas na hora da contratação. Todos nós já vimos anúncios bizarros de vagas incompatíveis com o que oferecem em contrapartida.
Mas voltando aos estudantes, muita coisa precisa ser reavaliada. Se as entidades de ensino precisam repensar seus modelos de negócios, metodologia e grades e, as empresas precisam atualizar suas diretrizes dos programas de estágio, obviamente os jovens precisam rever seus conceitos sobre empregabilidade e estabilidade profissional.
Com as adversidades que passamos nos últimos dois anos, a ansiedade entre os jovens cresceu, muitos deles – 66%, segundo a pesquisa – hoje precisam pagar a própria faculdade. A queda da renda familiar impactou ainda na escolha dos cursos: entre vocação e oportunidades no mercado, o quesito oportunidade vem ganhando espaço e cresceu de 36% para 39%, enquanto a escolha por vocação caiu de 58% para 52% ao compararmos com os dados do ano anterior (2020).
Estes jovens precisam estar preparados para ouvir “não”, assumir as responsabilidades pelo que deu errado e buscar formas de melhorar seus pontos fracos, além de entenderem que o mercado, bem como as modalidades de contratação dos profissionais, estão se atualizando e isto não tem escola que ensine.
Precisam desenvolver melhor o equilíbrio emocional, a responsabilidade, o comprometimento e a resiliência.
Se existe uma dificuldade em ouvir “não”, que busque caminhos para entender cada um deles, fazer o mea-culpa e melhorar o que for necessário para ouvir mais “sim”. Acredita que se dá bem apenas em entrevistas presenciais? Busque alternativas para melhorar sua performance nas entrevistas remotas.
Se hoje eu posso deixar uma dica para quem quer entrar no mercado é: que aprenda a lidar com pressão, incerteza e mudanças constantes. O mundo aqui fora é assim, o mercado não vai mudar para que alguém se sinta mais confortável.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria e da Espacio de Color, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera e voluntário da Singularity University