Que as empresas precisam cuidar das finanças para sobreviver, todos nós sabemos. E, culturalmente, ao nos depararmos com momentos de redução de receitas, as primeiras ações são o racionamento e a reestruturação dos custos. Mas por que parece tão mais fácil reduzir despesas do que aumentar as receitas?
Esta pode parecer uma questão simplória, mas traz uma visão de grande relevância na gestão de crises e no planejamento estratégico das organizações.
As empresas que adotam o modelo de gestão voltada para o lucro são as mais impactadas pela Síndrome do Subdesempenho Satisfatório. Geralmente, fazem com maestria o exercício de se adequar às situações mais críticas, isso traz a falsa sensação de que está tudo certo e, por outro lado, deixam passar a oportunidade de criar e desenvolver novas soluções buscando atender um novo cenário ou comportamento do mercado.
Precisamos de empresas “ambidestras”, que garantam suas entregas em curto prazo, mas que viabilizem sua sustentabilidade, desenvolvendo suas entregas futuras, pensando a longo prazo. Por isso, o foco exclusivo na redução dos custos pode ser fatal.
Há quem relacione o subdesempenho à arrogância e prepotência da alta cúpula, sobretudo após estratégias de sucesso. O nível estratégico sente que é bom demais para olhar para pequenos problemas, mas o sucesso do passado não garante o êxito no futuro.
Costumo chamar de “alinhamento pela mediocridade”, ou seja, na ausência de desafios maiores, entrega-se o mínimo necessário. Seja por ausência de informações ou por estarem em zona de conforto, empresas de todos os portes podem ser acometidas por esta síndrome, inclusive as empresas de capital aberto que, quando menos esperam, são surpreendidas por seus concorrentes mais arrojados, que enxergaram oportunidades e criaram novas soluções.
O dinamismo do mercado, o volume de informações e a velocidade com que os consumidores se atualizam exigem que as empresas revejam, com frequência, seus modelos de negócios. Produtos e serviços sofrem uma “comoditização”, portanto, a cada dia a proposta de valor e os benefícios oferecidos devem ser mais relevantes. Uma boa pergunta é: “o que faz com que os clientes comprem de sua empresa?”.
Não se trata mais de oferecer um bom produto ou prestar um bom serviço. Estamos falando de superar as expectativas, de ser nota 10 e não nota 7, de se antecipar às dores dos clientes. É hora de cuidar das parcerias, inclusive considerar estar próximo de alguns concorrentes diretos e indiretos.
Mais do que distribuir dividendos, é hora de investir pesado em pesquisa e desenvolvimento, apostar forte em inovação tecnológica, atender as expectativas do mercado e acompanhar as tendências futuras.
Não basta olhar a última linha do demonstrativo. É mandatório acompanhar as tendências de mercado, evolução da tecnologia, mudanças de comportamento, hábitos e costumes das pessoas e, quando digo pessoas, não me refiro apenas aos clientes, mas também aos colaboradores, fornecedores e todos os outros envolvidos ou impactados pela organização.
Precisamos entender o que faz um cliente comprar e, ao mesmo tempo, devemos saber o que motiva nosso time a trabalhar em nossa empresa, o que os engaja, afinal, equipe engajada tem alto desempenho.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria e da Espacio de Color, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera e voluntário da Singularity University