Quem já sentiu necessidade de pedir ajuda e travou, não conseguiu nem sair do lugar? As pernas travaram, a coragem sumiu e o medo cresceu, tudo pareceu mais difícil e a sensação de fraqueza e de incapacidade te dominaram.
Temos necessidade de viver em sociedade, segundo Aristóteles este é também um fator fundamental para nossa existência. Almejamos o convívio, buscamos desenvolver relações interpessoais e a experiência de viver em grupos. Buscamos apoio e aceitação em nossas famílias, em nossos ciclos de amizade e, só de imaginar que esse suporte possa ser perdido, já nos sentimos ameaçados, surge o medo da exclusão, da perda do vínculo ou da posição social e da rejeição.
Que medo é esse de se sentir desprezado, que pode nos custar a paz, um sonho ou até a vida?
Na jornada do empreendedor, acreditar em uma ideia que poucos acreditam acaba se tornando um exercício de isolamento necessário. Nesta fase, acreditamos e confiamos mais em nossas intuições, mas é importante saber quando sair dessa bolha. Uma coisa é estar sozinho, outra é estar solitário.
Nas empresas percebemos que quanto maior o cargo, maior o isolamento. Outra característica interessante é que quanto mais idade, maior a dificuldade de buscar ajuda, pois traz a sensação de incompetência ou de redução do status. A verdade é que o empresário não pode dividir o peso com a família para evitar preocupações, não divide com a equipe para não expor suas fraquezas e não fala com os amigos para não ser julgado. Como resultado vem a angústia, ansiedade, frustração e, em muitos casos, a depressão.
Estudos indicam que a solidão está associada aos riscos elevados de doenças cardíacas e vasculares e câncer, sendo mais nociva que o sedentarismo ou o alcoolismo. Uma pesquisa da Harvard Business Review (2018) mostrou que 25% dos mais de 300 empresários entrevistados tiveram pelo menos um princípio de Síndrome de Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional). E o indicador mais assustador é que em posições onde o mercado é mais acirrado, a competitividade é maior e os níveis de exigência e performance são elevados há maior tendência ao suicídio.
As novas gerações de empreendedores têm maior facilidade em compartilhar suas dúvidas e seus anseios. Dos chamados que recebemos para consultorias e mentorias, cerca de 70% são dos mais jovens. E destes, antes de nos acionarem, seguramente 80% receberam ajudas que não ajudam, de pessoas que trouxeram opiniões a partir de seu ponto de vista, sem vivência, metodologia ou referência teórica, dicas construtivas de quem nunca construiu nada.
Chamo isso de “abraço de afogado”, pois serve apenas para te puxar mais para baixo. Isso acontece porque as pessoas não estão preparadas para apenas ouvir e dar apoio, existe a necessidade de falar, dar opinião e sugestões. É preciso entender que quem busca ajuda quer apenas desabafar e não um plano de ações.
Muitas vezes chego em uma empresa e tudo parece caótico, mas boa parte dos problemas se resolvem quando o empreendedor entende que tem com quem dividir o fardo. Depois de algumas conversas, problemas que aparentemente estavam na operação, nas equipes ou nos processos, simplesmente são resolvidos, alguns estavam lá por anos.
Se você é empreendedor e tem se sentido refém de seu negócio, sufocado e deixou de sentir prazer em desenvolver uma atividade que um dia foi seu sonho, o primeiro passo é entender que há possibilidade de buscar ajuda. Depois disso é vencer o orgulho. Saiba que é possível somar experiências, compartilhar conhecimento e também dividir as dores.
Outra questão que gostaria de abordar é que a correria do dia a dia tem nos distanciado das pessoas, dos amigos de infância, da família e, quando percebemos, já se passou muito tempo do último encontro, da última conversa. Antes visitávamos, depois um telefonema e agora uma mensagem nas redes sociais ou aplicativos de mensagens bastam para cumprimentar um amigo pelo seu aniversário, por uma conquista ou ainda prestar condolências.
A tecnologia tem sim sua influência, o distanciamento social imposto nos últimos tempos também contribuiu, mas vai além disso. Para espantar a solidão, se estiver em home office, saia de casa, busque outros locais para trabalhar, nem que seja uma ou duas vezes por semana.
Em casa ou no escritório, não se alimente na mesa de trabalho, levante para almoçar, faça uma pausa para tomar um café, movimente-se com frequência, ande um pouco e veja outras pessoas, mesmo que sejam desconhecidos na calçada. Quando possível agende reuniões presenciais e, tendo oportunidade, vá a eventos, fortaleça o networking. É importante estar conectado no mundo virtual, mas não fique alienado ao mundo físico. Faça amigos e busque mentores.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria e da Espacio de Color, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera e voluntário da Singularity University