O setor público se difere em diversos aspectos do privado, mas quando falamos em gestão, não estamos errados em dizer que cidades e empresas têm muito em comum, salvo as devidas proporções e suas peculiaridades.
Assim como as empresas, as cidades são organismos vivos, cheios de necessidades, fluxos e processos, clientes internos e clientes finais. Elas oferecem produtos e serviços, lidam com orçamento e receitas, têm metas, departamentos diversos, precisam prestar contas e sempre estar atentas às tendências e novidades.
E se no mundo corporativo as empresas usam a tecnologia a seu favor, por que teria que ser diferente no setor público?
Uma das tendências mais fortes que tenho visto para este setor são as Cidades Inteligentes, as tão faladas Smart Cities, um conceito que envolve estrategicamente infraestrutura, comunicação, planejamento e gestão urbana em prol do desenvolvimento das cidades. Este conceito engaja os cidadãos que, através da tecnologia, interagem e passam a ser protagonistas na busca de soluções para as demandas geradas. O eixo central é o bem-estar da população.
Para que isso aconteça, a tecnologia é essencial, e a utilização de inteligência artificial, nuvens, internet das coisas (IOT) e aplicativos se torna cada vez mais comum no dia a dia das pessoas. Além disso, é importante lembrar que os dados são a base de tudo isso, inclusive os dados pessoais dos moradores. Por exemplo, na área da segurança, com a utilização da biometria (impressão digital, reconhecimento facial ou da voz, leitura da íris ou da retina) ou ainda informações de um prontuário médico para a criação de políticas públicas de saúde.
Falar em utilização de dados nos obriga a mencionar que tudo isso deve ser regulamentado de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), o que torna a adequação a essa legislação um pré-requisito para se pensar em ser uma Cidade Inteligente. O tema LGPD tem sido amplamente discutido e existem muitas literaturas disponíveis para quem tiver interesse em se aprofundar.
A ISO (International Organization for Standardization), uma organização mundial que tem como objetivo a padronização de processos, publicou em maio de 2019 a ISO 37122, que especifica e estabelece definições e metodologias para o conjunto de indicadores para Cidades Inteligentes, complementando a ISO 37120. Ambas utilizadas em conjunto somam 19 eixos e 180 indicadores, que possibilitam que as cidades encontrem melhores práticas para aplicar sistemas de gestão urbana, implementar políticas, programas e projetos de Cidades Inteligentes.
O ranking Connected Smart Cities, que já possui seis publicações anuais (2015 a 2020) disponíveis no link (https://ranking.connectedsmartcities.com.br/), classifica as cidades com 70 indicadores em 11 eixos temáticos: mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo e governança.
Entre as cidades do estado de São Paulo, a nossa capital lidera o ranking, seguida por Campinas e São Caetano do Sul. Ribeirão Preto ocupa o 13º lugar e Batatais o 82º, pontuando nos eixos da educação e urbanismo. Franca ainda não figura entre as 100 primeiras colocadas e pontua apenas no eixo do meio ambiente em 42º lugar e nota 5,51, o que evidencia que temos bastante trabalho pela frente. Fiquem atentos às oportunidades e mãos à obra.
Meu objetivo ao falar do tema, não é criar uma corrida pelo primeiro lugar, mas sim, provocar reflexão em cada um de nós, cidadãos, em busca de melhorias que possam contribuir com nossas cidades, para que elas sejam mais inteligentes e, como consequência, mais sustentáveis e com melhor qualidade de vida.
Vou dar uma força para a estruturação do raciocínio de vocês. Alguns dos maiores desafios a serem vencidos são o aumento da população, poluição, escassez de recursos, gestão da água e eficiência energética.
Algumas áreas que precisam de soluções e podem ajudar as cidades em seu desenvolvimento são: automatização e controle de edificações, mobilidade urbana e transporte público, gestão de resíduos, tecnologia na educação e na saúde, planejamento urbano – com foco em melhoria da sustentabilidade – e meio ambiente, transparência na gestão pública e compartilhamento de dados.
De acordo com Cities in Motion Index, desenvolvido pela IESE Business School, escola de negócios da Universidade de Navarra (Espanha), estas são as TOP 5 Smart Cities do mundo, do primeiro ao quinto lugar, respectivamente: Londres (Reino Unido), Nova York (Estados Unidos), Amsterdã (Holanda), Paris (França) e Reykjavik (Islândia). Enquanto as cidades norte-americanas se destacam pelo capital humano e forte economia, as europeias se destacam pela sustentabilidade e qualidade de vida.
O estudo mostra ainda que não existe um modelo certo e, sim, que cada cidade desenvolve seus modelos de acordo com a sua realidade.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria, mentor em Gestão Estratégica de Negócios, gestor da Impera (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Franca) e do MKBZ Studio, voluntário da Singularity University