Na última semana recebi um vídeo de um amigo, que fala com indignação sobre a decisão jurídica em desfavor de uma determinada empresa. Essa, por sua vez, em função da situação pandêmica, se vê obrigada a desligar seus colaboradores. Além disso, na sentença, “por ser considerada mais rica e forte na relação empresa versus empregado” foi condenada a pagar R$ 17 milhões por danos morais coletivos aos demitidos, além de reintegrá-los ao quadro de funcionários.
Do ponto de vista jurídico, essa batalha deve continuar e, até o momento em que eu escrevo, a última notícia é que já existe um recurso em andamento. No entanto, essa não é minha área de conhecimento e meu objetivo não é a discussão no âmbito jurídico.
Quero hoje provocar uma reflexão sobre o momento em que vivemos, onde o empresário é marginalizado, visto como o grande vilão da sociedade. Gerar empregos, gerar receita, pagar impostos pesados e por todo o trabalho realizado, responsabilidades assumidas e riscos corridos, obter um lucro justo, tudo isso aos olhos da sociedade moderna é visto como se fosse um crime.
No vídeo foi citada a passagem de um romance de 1957, repleto de simbolismo: “A Revolta de Atlas”. Me chamou tanto a atenção, que por isso fui me aprofundar e decidi trazer aqui alguns pontos relevantes, dada a proximidade dos fatos narrados com a nossa realidade.
Na obra, as forças políticas da esquerda estão no poder e os EUA, ainda capitalistas, caminham para o colapso. O Estado gradativamente se sobrepõe à iniciativa privada e os empresários, industriais, cientistas e artistas começam a desaparecer. O Estado então assume o controle das empresas e, em pouco tempo, não garante mais a sustentabilidade das mesmas, quando o caos se instaura em nome do coletivismo.
Simbolicamente surge a figura de Atlas, gigante, “com sangue escorrendo pelos ombros”, buscando suas últimas forças para sustentar o universo, representado por um globo ou, em algumas edições do livro, por colunas. Quando li esta descrição me vieram duas correlações: a do empresário lutando para sustentar o seu negócio e, num macro cenário, o mercado sustentando bravamente a economia, o sistema.
Sobre este trecho, não posso deixar de pensar em quantas vezes vi empresários serem subjugados, seja por sua equipe ou por terceiros, que arriscaram iniciar seu próprio negócio, apenas por achar que faria melhor e, muitas vezes, dando com os burros na água.
Não bastassem essas passagens, um outro personagem, desta vez jornalista, defendia o uso da força bruta em favor de uma “boa causa”. Prender, privar, restringir, assassinar, roubar, sufocar os planos e ambições, enfim, tudo o que for para garantir o bem coletivo, a “boa causa”
Mais uma coisa: vocês já imaginaram um mundo onde os trabalhadores se sentem no direito de trabalhar onde quiserem? Independente da necessidade, disponibilidade e, porque não, da “vontade” da empresa. Surreal, não?
Já escrevi, em algum outro texto, sobre a importância de descobrir e se sentir realizado com seu próprio trabalho, independente do ganho ou do lucro, e que isso deve ocorrer naturalmente, como resultado e não como objetivo do trabalho. Pois bem, em um dos capítulos ocorre um paralelo interessantíssimo sobre esta questão. A disponibilidade e o engajamento de quem trabalha pela realização frente aos que buscam apenas um trabalho para gerar uma renda.
Muito intrigante como uma ficção, de quase um século atrás, pode trazer tantas semelhanças com a realidade em que vivemos. Longe de querer provocar uma discussão política ou uma polarização empregador versus empregado, mas minha intenção é propor reflexões sobre as nossas ações, atitudes e o que estamos plantando para as próximas gerações.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria, mentor em Gestão Estratégica de Negócios e gestor da Impera (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Franca)