A história do comércio anda em linha com a história do povoamento no mundo. Com a colonização do Brasil, temos os primeiros registros do escambo: os índios, em troca de seus serviços, recebiam bugigangas diversas. Mas, é a partir da formação das primeiras vilas litorâneas, que o comércio nasce de fato em nosso país. Nesta época, dos latifúndios, importávamos escravos e manufaturados e exportávamos o produto principal, o açúcar. Algum tempo depois, pedras preciosas e ouro, entre alguns outros produtos.
A Companhia Geral do Comércio do Brasil criada pela Coroa Portuguesa, entre 1649 e 1720, tomou conta das vendas de produtos como vinhos, azeites, farinhas e bacalhau. O modelo de negócios serviu de exemplo e, tempos depois, foram criadas a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba.
Já no final do século 17, a mineração do ouro no interior de Minas Gerais cria demanda de pousos e estalagens, onde os viajantes – em suas longas jornadas – paravam para descansar e repor os itens de necessidade básica. Logo em seguida, surgem as vilas e a presença dos tropeiros que, com suas mulas, abasteciam os centros e levavam aguardente e tabaco como contrabando. Com isso, os povoados eram cada vez mais numerosos.
A partir de 1808, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, o comércio vive um novo momento: evolui de limitação produtiva e foco em subsistência para uma variedade maior de produtos, e há abertura de lojas nas cidades portuárias, mais especificamente Rio de Janeiro, Recife e Salvador.
Com a abertura dos portos, além de muitas mercadorias, começam a chegar imigrantes aos milhares, mudando consideravelmente a relação de consumo e o modelo de negócios do comércio local. Se antes a preocupação era saneamento e segurança, neste momento começamos a notar nitidamente uma escalada na percepção das necessidades dos consumidores: o acesso aos produtos europeus provoca nos mais ricos a demanda por produtos de moda e decoração.
Depois da Independência, o café passa a ser o produto interno mais exportado e, a partir daí, há um grande investimento em infraestrutura, como as estradas de ferro, e nas redes de apoio ao comércio, surgindo um sistema financeiro mais robusto, casas de exportação e bancos.
Agora, a industrialização se torna a bola da vez. Funcionários assalariados e imigrantes injetando dinheiro em pequenos parques fabris, atendendo demandas de produtos que antes seriam importados. As indústrias e seus processos manufaturados atraíram as pessoas para a cidade. São Paulo, em meados de 1920, já tinha mais de 200 mil operários e a demanda por alimentação se torna uma oportunidade para que as feiras livres tomem seu lugar nessa história.
Na mesma época, os armazéns de secos e molhados, os pequenos mercados e a figura dos vendedores ambulantes também tiveram importância no escoamento da produção nacional e pulverização dos produtos importados. Diga-se de passagem, é desses ambulantes que vem nosso modelo de vendas PAP (o famoso porta a porta), adotado até hoje por empresas de todos os portes. Vale lembrar ainda que, nesta fase, as Lojas Pernambucanas já contavam com 200 unidades espalhadas pelo país.
O Brasil, que antes sofria grande influência europeia, começa a notar os comportamentos dos norte-americanos. No pós-guerra, a forma de se vender produtos dá mais um importante passo para sua evolução. As vendas, que antes ocorriam em um balcão, passam a seguir o modelo das gôndolas, onde o cliente poderia ver, tocar e escolher os produtos de sua necessidade. As lojas mais modernas começam a se especializar em segmentos específicos, de roupas, por exemplo. Ainda como parte desta ascensão, os comerciantes adotam a exposição de seus produtos nas vitrines. Para o marketing, o momento é de grande representatividade pois, nesta época, a divulgação de campanhas sazonais em rádio e jornais se fortalece.
O Dia das Mães, uma das datas mais quentes no varejo atual e considerado o segundo Natal dos comerciantes, é de 1948. Outro dado importante desta mesma época é o surgimento dos mercados com modelo de autosserviço, que passa por diversas transformações – sobretudo no tamanho das lojas e posicionamento de mercado, mas que estão em evidência até hoje. Basta vermos os hipermercados, os atacarejos e o surgimento dos shoppings centers.
De lá para cá, com ajuda da tecnologia, as mudanças ocorreram em alta velocidade. Os sistemas de apoio ao varejo ganharam código de barras e softwares de gestão e inteligência comercial. Novos produtos foram desenvolvidos e, aqui, preciso citar como exemplo o ciclo da indústria audiovisual: partindo das fitas cassetes e VHS, passando pelos CDs, DVDs e Blue Ray e chegando hoje nas plataformas de streaming.
E como falar de evolução, sem falar de e-commerce? A primeira loja virtual foi implantada em 1992 pelo Magazine Luiza. Inicialmente surgiram muitas críticas e, principalmente, dúvidas sobre este modelo de negócios, que gradativamente tomou seu lugar na evolução do comércio. Primeiro, sendo importante como canal de vendas complementar. Agora, como o principal canal de muitas empresas.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria, consultor especialista em Gestão Estratégica de Negócios e gestor da Impera (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Franca)