Pode soar estranho, mas desde a criação da CPD nosso objetivo nunca foi o lucro. Em minha carreira, durante muito tempo trabalhei em empresas onde o lucro era o objetivo principal, muitas vezes escondido por trás de campanhas sociais lindas, mas internamente a conversa era outra.
E o que há de errado nisso? Nada! Absolutamente nada de errado em ter o lucro como principal objetivo, isso não fere nenhum princípio da gestão. Como estratégia para se obter os resultados esperados, cada empresa lança mão de suas melhores ações e, quanto mais concorrido o mercado, mais trabalho para isso.
Em uma breve retrospectiva podemos entender melhor este contexto. Lá em 1925, a palavra de ordem era produzir: foi o momento de aprender a industrializar produtos. Todos os esforços e investimentos foram voltados para técnicas de produção que garantissem qualidade e preço baixo, acreditando que produtos com essas características seriam vendidos facilmente.
O foco da produção em escala acabou gerando um alto estoque. Daí a percepção de que era preciso criar força comercial e, junto com ela, a necessidade de gerar diferenciais que facilitassem as vendas. Nesse momento a concorrência começava a ser mais acirrada.
Vendedor na rua gera relacionamento, consequentemente novas demandas. Não basta produzir em escala, com qualidade e preço, mas sim produzir o que os clientes desejam, ou seja, o objetivo passa a ser outro: manter o cliente conquistado.
Chega o momento de padronizar, anos 1990 e a enxurrada de certificações. De um dia para outro, a empresa que não certificasse ISO 9000 (garantia de padrões de qualidade) estaria fora do mercado. Como auditor de certificação, presenciei muitas empresas certificando apenas para obter “O Selo”, mas com uma cultura organizacional com foco no lucro e não na garantia da qualidade.
Hoje aprendemos a produzir em escala, com qualidade, padronização e com preços competitivos. Mas será que é isso o que mais importa para os consumidores? É isso que faz o cliente desejar sua marca e seus produtos? Claro que não.
O consumidor tem dado preferência para as marcas que são relevantes para a sociedade, o senso coletivo e a empatia estão em alta. Uma grande e conhecida marca doa uma refeição para cada cinco camisas vendidas, outra multinacional paralisa toda sua equipe por um dia para fazer trabalho voluntário em abrigos, creches e asilos. Sobre isso tem duas coisas importantes a serem ditas aqui.
A primeira, é que em nenhum desses exemplos a divulgação externa é maior do que a interna, ou seja, isso é feito de acordo com a cultura e o propósito das empresas e não somente para ação social. A segunda, é que não precisa ser grande para isso. Temos exemplo de uma ótica em nossa região que, a cada venda, um percentual é revertido para doação de óculos para instituições carentes. Não é difícil, basta ter um pouco de planejamento.
Empresas precisam de dinheiro. A conta tem que fechar e o lucro financeiro é resultado da soma de ações, mas não pode ser seu principal objetivo. Nós, empresários, temos papel fundamental no desenvolvimento do ecossistema em que estamos inseridos. O meu objetivo, por exemplo, é desenvolver empreendedores através do conhecimento compartilhado. E faço questão de levar isso como cultura por onde eu passo, pois empreendedores preparados geram oportunidades, encontram soluções e transformam a sociedade.
Jean Dunkl
@jeandunkl
CEO da CPD Consultoria, consultor especialista em Gestão Estratégica de Negócios e gestor da Impera (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Franca)