Domenico de Masi escreveu um livro com esse título. A primeira edição data de 1995, ou seja, há 25anos, e, o interessante é que as proposições do autor são atualíssimas. O autor já falava na era pós-industrial, segundo a qual, o trabalho repetitivo, físico ou intelectual, será cada vez mais realizado por máquinas e que aos humanos restaria apenas a interessante tarefa de ser criativo. A palavra “ócio” para nós tem um sentido extremamente negativo, vinculada a vadiagem, a preguiça e a ausência de trabalho; no entanto, ao retomar o sentido que tinha para os gregos, a palavra tem conotação estritamente física: “trabalho era tudo aquilo que fazia suar, com exceção do esporte. Quem trabalhava, isto é suava, ou era escravo ou era um cidadão de segunda classe. As atividades não físicas (a política, o estudo, a poesia a filosofia) eram “ociosas”, ou seja, expressões mentais, dignas somente dos cidadãos de primeira classe”. Para o autor é necessário planejar futuro de modo que não dependa mais do capricho dos deuses, como na pré-história, mas do que prevemos e preparamos cientificamente. Rejeitar a tecnologia é sinal de “esnobismo e masoquismo” e quem se “perturba com a tecnologia pode não utilizá-la, mas não pode impedir o acesso e usos pelos outros”. Interessante reflexão apresenta ao afirmar que para os católicos “o trabalho é uma sentença condenatória, para os liberais é uma disputa mercantil, para Marx é a única possibilidade de redenção junto com a revolução, e, por isso, um direito a ser conquistado. Somente com Taylor, no plano prático, e Lafargue, no plano teórico, consideram o trabalho um mal que deve ser reduzido ao mínimo ou evitado”. Como então gerar riquezas se teremos mais tempo para cultura, estudos e lazer? A resposta do autor é bem cativante: “o incremento do tempo livre não é uma profecia referente ao futuro, mas uma simples constatação do presente. Os cidadãos que trabalham sempre menos e as máquinas que trabalham sempre mais. Ganha o indivíduo, a ciência, a arte, a sociedade como um todo e a qualidade de vida.” Nesse sentido, as “operações tediosas, cansativas e perigosas são realizadas pelas máquinas e a riqueza por elas produzidas distribuída com base num princípio de solidariedade e não de competitividade. O trabalho intelectual e criativo seja dividido de maneira equânime e organizado de uma forma não alienante. O tempo livre seja resgatado da banalidade, do consumismo e da violência.” Estamos preparados para o ócio criativo?
Acir de Matos Gomes
Advogado e vice-presidente da subseção da OAB-Franca