O maestro Nazir Bittar fez uso da Tribuna Livre para falar sobre a atual situação da Orquestra Sinfônica de Franca nesta terça-feira, 27 de fevereiro, durante a 4ª Sessão Ordinária realizada no auditório do Uni-Facef.
Inicialmente, agradeceu aos parlamentares pelo espaço e comentou: “sou Maestro e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Franca criada no final de 2007 e seus desmembramentos como, a Orquestra Jovem de Franca criada em 2010, Ensemble Vocal da OSF criado em 2015, diretor artístico do concurso a Mais Bela Voz Infantil reativado em 2018, a Mais Bela Voz Adulta criado em 2022 e do Coro Infanto-Juvenil Jovens Cantores de Franca criado em 2019”.
“O motivo de estarmos hoje aqui, e quando digo estarmos é porque não estou sozinho! Eu nunca estou sozinho! E aqui estão Vera Jacinto Rodrigues Alves, vice-presidente da Associação Cultural da Região da Alta Mogiana (ASCRAM), mantenedora da OSF e seus desmembramentos e que já foi presidente da associação por dois mandatos e hoje representa a atual presidente Cristina Tozi que não pôde estar presente. Temos Dr. Fernando Melo Diretor Jurídico, Raquel Mendes Prior, temos integrantes do Ensemble Vocal da OSF Fernando Diniz, e também amigos e público de nossos concertos que vieram nos apoiar neste momento” acrescentou.
Em seguida, Nazir pontuou: “o motivo é colocar vocês vereadores, representantes do povo francano, a par do que aconteceu e do que está acontecendo na orquestra. Cada um de vocês agora receberá uma cópia do ofício protocolado ontem no Gabinete do Prefeito e na FEAC solicitando vistas a questão do vínculo da Prefeitura com a Ascram, e que esse vínculo voltasse às bases anteriores para salvaguardar o único programa cultural regular da cidade promovido pelo Poder Público”.
Antecedentes
Nazir Bittar concedeu entrevista ao Jornal Verdade após sua participação na Câmara Municipal de Franca. Ele relatou que o projeto teve uma interrupção ainda durante o primeiro mandato do prefeito Alexandre Ferreira e, agora, teve seu repasse reduzido.
“No primeiro mandato do Alexandre aconteceu o mesmo que está acontecendo agora. Houve um atraso no momento de fazer o aditamento do contrato e, expirando o prazo, perde-se o vínculo com a prefeitura. Resultado foi que o governo dele acabou e no governo Gilson demorou 1 ano e meio para voltarmos com o contrato com a prefeitura”, afirmou Nazir. Durante o período até o retorno das atividades, as orquestras e a Ensemble não pararam. “Eu trabalhei sem receber nenhum centavo e os músicos receberam seus cachês nos poucos concertos que teve, graças a outras formas de conseguir verba, que pudemos usar na época”.
Segundo Bittar, o contrato atual não foi extinto, mas a participação foi reduzida de R$ 15 mil para R$ 8 mil, no entanto, sem a regularidade mensal e sem condições, com esse valor, de manter o programa completo como era até então. “Não houve explicação alguma [da Prefeitura]. Apenas disseram que não queriam mais e que comprariam de quando em quando apresentações nos bairros, o que interfere totalmente na autonomia da orquestra e na manutenção do programa.
Último repasse
O último repasse de 15 mil reais no modelo antigo aconteceu em abril de 2023 e depois disso, em novembro, vieram duas apresentações no modelo novo com orquestra de dez músicos.
“15 mil reais eram muito pouco, mas dava para se virar e manter todo o projeto e realizar os concertos. Apertados, mas não impossibilitados. 15 mil reais para a Prefeitura não representa absolutamente nada no orçamento e sequer serviria para outro tipo de atividade, porque realmente não é uma monta expressiva, mas é o mínimo do mínimo necessário. Se houvesse um reajuste para 20 mil por exemplo, nós poderíamos ajustar os cachês dos músicos e também fazer concertos mais elaborados”, declarou Nazir.
Prejuízo ao Município!
Questionado se a falta de fomento às atividades culturais representaria um prejuízo à cidade, o maestro foi enfático: “certamente! O programa da orquestra sinfônica que consiste na própria orquestra, na orquestra jovem, o Ensemble, coral das crianças, concurso de voz infantil e adulto e os projetos educacionais, era o único projeto regular cultural da Prefeitura. As outras ações são compra de apresentações de artistas locais e bolsa cultura, tudo sem uma continuidade regular de formação de plateia e continuidade cultural”.
Nazir Bittar destaca que o fato de outros projetos culturais também terem sido encerrados, tais como o Musicando, Caicultura, Feira do Livro, entre outros, fazem com que a cidade fique ainda mais isolada culturalmente e artisticamente. “Se as produções artísticas de fora não chegam a Franca e se as poucas produções artísticas da cidade são interrompidas o que sobra para a população?”
Participação na Câmara
Criador da Orquestra Sinfônica de Franca, Nazir menciona que, em 15 anos na cidade, sempre resolveu seus entraves de forma particular: sem alarde e sem a intervenção da Câmara, contudo, neste ano, precisou fazer diferente. “Nesse um ano de corte, chegou um momento que me caiu a ficha e percebi que ficarmos calados seria ficarmos coniventes com o desmantelo. A orquestra e seus desmembramentos não vão cair na lista dos diversos projetos culturais interrompidos em Franca. Se isso acontecer, não foi por falta de tentar”.
“Odeio o embate! Minha vida inteira eu preferi sair de campo a ter que enfrentar injustiças e brigas, espero que essa situação se resolva na harmonia possível. Sempre fui e prezo muito pela minha paz e a dos que me circundam, e eu espero apenas que eu possa fazer meu trabalho do jeito que estava antes ou em melhores condições. É obrigação do poder público proporcionar à população qualidade de vida sempre melhor e arte, cultura e educação fazem parte da receita mágica de uma cidade de sucesso”, conclui o maestro.