Adérmis Marini, empresário, foi vereados por duas vezes e chegou a ocupar a cadeira de deputado federal por alguns meses. Em 2020, como candidato a prefeito pelo partido do PSDB, foi o quarto candidato mais votado. Atualmente ele se dedica a sua profissão na área imobiliária e relata estar um pouco afastado da política após as eleições do ano passado. Ele é o quarto entrevistado do programa “Se você fosse o prefeito”, que entrevista pessoas ativas na política de Franca e região e está sendo apresentado quinzenalmente pelas redes sociais Facebook e Instagram, do Jornal Verdade e da Sociedade Organizada.
Todas as perguntas foram elaboradas de acordo com o contexto pelo qual a cidade atravessa, buscando encontrar soluções através de medidas alternativas, para a administração municipal.
Marcela Barros: O prefeito tem sido muito criticado por dizer em sua campanha que não faria o “lockdown” na cidade de Franca, caso houvesse uma nova onda de contaminação do vírus. O que você faria se você fosse o prefeito?
Adérmis Marini: isso foi um dos grandes debates naquele momento, até porque estávamos com a curva com um pouco menos de ascenção em relação ao Covid, e o prefeito Alexandre Ferreira, na época, ganhou grandes apoiadores e adeptos dizendo que não faria o “lockdown” e foi uma coisa muito discutida na época porque por um lado você tem a parte científica e do outro lado você tem a parte econômica que precisa trabalhar, gerar empregos, e que precisa colocar o sustento dentro de casa. Eu não faria um “lockdown” tão longo e tão restritivo como foi feito, eu colocaria uma restrição mais noturna e faria uma flexibilização durante o dia para que o comércio e algumas atividades pudessem trabalhar e exercer as suas atividades de forma organizada e responsável. Falo até por experiência própria, eu me contaminei e não foi em uma atividade comercial ou empresarial, foi em um descuido, em uma reunião familiar, de amigos. Então, a gente tem que ter consciência, e eu não posso ser hipócrita e dizer que as pessoas acabam se contaminando pelo comércio. Nós temos que ter, acima de tudo, cuidado com as pessoas que têm maior problema de saúde, mas eu faria de uma forma completamente diferente, aumentaria os leitos, faria uma campanha massiva, faria uma restrição noturna, mas que a atividade comercial pudesse continuar e que as pessoas pudessem realizar o seu trabalho e de uma forma bastante responsável.
Fernando Calixto: Você disse que aumentaria o número de leitos, o que foi um dos problemas da cidade. Como você conseguiria aumentar a quantidade de leitos em Franca, já que agora podemos ter outras cepas e poderemos sofre novamente com a falta de leitos na cidade. O que você se fosse o prefeito para aumentar o número de leitos na cidade?
Adérmis Marini: Fernando, quem acompanhou o meu trabalho na Câmara no final do ano passado viu a luta. Eu estava em constante contato com o secretário Marcus Vinholi do governo do estado de São Paulo e governo federal, para que Franca aumentasse o número de leitos, e esse aumento tem que ser constante. Nós já sabíamos que viria uma segunda onda durante a campanha, então é um trabalho que a prefeitura já deveria estar fazendo para aumentar o número de leitos. Como se aumenta? É por isso que é importante ter apoio com o governo do estado e com o governo federal, e essa articulação é muito importante porque nós sabemos que o governo municipal possui restrições orçamentárias, mas precisa ter o aumento de leitos para atender a população e paralelo a isso é necessário fazer campanhas de prevenção sobre o risco e a importância da vacinação.
Marcela Barros: Falando em vacinação, a secretaria de saúde mais uma vez foi palco de escândalo no caso dos “fura-filas”, o que você faria se fosse o prefeito?
Adérmis Marini: Primeiro devemos ter transparência total em relação a quem está sendo vacinado, de acordo com o que foi determinado pelo Ministério da Saúde, e segundo, deve haver punição para a pessoa que furou a fila e para o servidor conivente com essa situação.
Fernando Calixto: Nós sabemos que existem problemas em relação ao Covid, e recentemente o prefeito enviou para a Câmara o projeto orçado no valor de milhões de repasses para a São José, que seriam para a compra de passagens de pessoas mais pobres. Mas no dia da votação o prefeito retirou p projeto porque com certeza teria minoria na câmara e não conseguiria aprovar. Se você fosse o prefeito, você mandaria um projeto desse para a câmara? Ou ainda, você não acha que esse dinheiro poderia ser utilizado de outra maneira para ajudar esse problema da Covid?
Adérmis Marini: Essa relação empresa São José e prefeitos é algo que precisa ser muito esclarecido aqui na cidade de Franca, chega a ser …. Infelizmente é uma relação muito difícil a gente ver o executivo se ajoelhando para a empresa São José, enquanto a gente vê milhares de empresas aqui na cidade de Franca passando dificuldades. Quem acompanhou meu mandato sabe que eu fui um crítico em relação à renovação do contrato da São José sem licitação. Era a oportunidade do prefeito de agora, se a empresa está passando algumas dificuldades e não tem cumprido algumas cláusulas, fazer uma nova discussão em relação ao contrato com a empresa São José, e não mandar um contrato para a câmara que a gente sabe que o objetivo é subsidiar a empresa que passa dificuldades como qualquer outra empresa, o mercado da esquina, um restaurante, uma lanchonete que teve seu comércio fechado. Então a empresa São José, que é um monopólio na cidade, a mesma dificuldade que ela passa outros pequenos empresários da cidade passam. Não mandaria um projeto desse para a câmara e faria uma nova discussão pelo não cumprimento de cláusulas contratuais.
Marcela Barros: O prefeito alega que há um superávit do Covid, mais precisamente da quarta parcela, o que você pensa a respeito desse fato da sobra de recursos que não foram aplicados no combate ao Coronavírus?
Adérmis Marini: Veja Marcela que contradição, você faz um “lockdown” porque não tem leitos disponíveis para atender a população e por outro lado você tem um superávit, então faltou planejamento, faltou programação e acima de tudo, faltou gestão para que se pudesse aumentar os leitos, cuidar da população e não trouxesse um “lockdown” que acabou prejudicando parte do comércio, sendo que se podia com esse dinheiro preservas vidas na cidade de Franca.
Fernando Calixto: Você já fez parte do legislativo como vereador e também almejou o cargo de prefeito, o que você me diz da relação entre câmara e prefeitura? Você acha que a câmara deve seguir o que o prefeito determina ou deve servir como juiz, fiscalizando as ações do prefeito?
Adérmis Marini: Fernando eu tive dois mandatos como vereador e estive um período como deputado federal, também legislativo, se você ver constitucionalmente, o legislativo tem duas funções que são de legislar e fiscalizar. De maneira nenhuma o legislativo pode ser submisso ao prefeito, são poderes harmônicos, mas que devem ter independência, e a independência requer que você tenha coragem e aponte erros do executivo. O que vemos muitas vezes é uma relação promíscua, em que o vereador quer atender a sua base e acabam se submetendo a determinações do executivo. O legislativo tem que ser independente, tem que ser rigoroso e teme que fiscalizar o executivo. Eu falo isso com muita tranquilidade, porque eu falo isso, porque no meu primeiro mandato eu fui líder do prefeito Alexandre Ferreira e votei para ele ser investigado e votei inclusive a cassação dele como prefeito de Franca. No mandato passado, o Kaká, o Marco Garcia, o Della Motta e eu, que chamavam as pessoas chamavam de “quarteto” por brincadeira, fizemos esse trabalho de independência. E se o executivo tivesse se alertado ao que nós reportávamos na câmara, como contrato da empresa São José, verba para covid, ampliação de leitos para UTI, talvez não tivéssemos passado uma série de problemas que nós alertávamos lá atrás.
Marcela Barros: Apesar de filiado ao PSDB, você sempre tentou manter uma autonomia do seu mandato, chegando até a ser um grande crítico contra algumas ações do governador João Dória. Como você vê a relação do governo municipal com o governo estadual?
Adérmis Marini: Você ser filiado a um partido, até porque é uma determinação da lei, não quer dizer que você tenha que ser submisso e seguir tudo aquilo que é determinado pelo partido e pelo governo. Nós temos que ter nosso posicionamento de forma clara e corajosa, porém os governos municipal, estadual e federal, devem ter uma relação republicana, que é de respeito, até mesmo para receber verbas. Mas isso não significa que você tenha que ser submisso. Eu disputei a eleição, mas torço para que o prefeito Alexandre Ferreira faça um bom mandato, até porque é o que a gente espera como cidadão e a gente quer que a cidade se desenvolva e seja bem administrada, mas isso não impede de sermos críticos em ações, porém a relação deve ser uma relação muito saudável entre os entes para buscarmos recursos para o município de Franca.
Fernando Calixto: Muitas fábricas têm deixado Franca ultimamente, algumas buscando melhores subsídios em outros lugares, e com a chegada da pandemia a gente viu que algumas fábricas deixaram a cidade e com o “lockdown” o problema aumentou. Se você fosse o prefeito, o que você faria para que as empresa não deixassem Franca?
Adérmis Marini: As cidades de Franca, Jaú e Birigui enfrentam um problema que envolve o governo do estado de São Paulo. Aí convém formar um comitê e buscar um diálogo sério e mostrar a realidade da cidade de Franca. Inclusive, o empresário francano Juliano Gera tem um estudo muito bem organizado que já foi apresentado ao governo do estado, e precisamos mostrar para o governo que ele precisa fazer a equidade fiscal. Porque se tiver uma equidade em relação a outros estados, é possível colocar o calçado de uma forma mais competitiva. Então é questão de diálogo e de gestão, e apesar de Franca estar se modernizando é preciso acelerar ainda mais o nosso parque tecnológico para gerar competitividade. Hoje temos muitos e-commerce na cidade de Franca, então seria preciso fazer uma gestão, trazer a tecnologia e inovação para o setor calçadista, de forma que elas possam ter mais valor agregado e a partir daí conseguir gerar mais renda e emprego para a cidade de Franca.
Marcela Barros: Quero agradecer a sua participação e pedir para que você deixe uma mensagem final para quem está nos acompanhando, e também para os nossos governantes.
Adérmis Marini: Quero agradecer a oportunidade, dizer que nós respeitamos o resultado das urnas, gostaria de ter sido o prefeito de Franca, não fui escolhido, a população escolheu o Alexandre Ferreira. Quem acompanhou sabe que tive um debate muito forte com ele, mas de coração, como francano nascido e criado nessa cidade, quero que ele faça uma boa gestão. E uma boa gestão requer você ouvir, ter um jornalismo independente que irá apontar, uma câmara também com independência, coragem e posicionamento. A minha palavra para os vereadores é que a câmara tem que apontar os problemas existentes, levar para o executivo e junto buscar soluções para a cidade de Franca.
O vídeo pode ser assistido na íntegra através das páginas do Jornal Verdade e Sociedade Organizada nas redes sociais.