Flávia Lancha, filiada ao PSD, foi secretária de desenvolvimento do município de 2017 a 2018 e concorreu à prefeitura de Franca por duas vezes, chegando a disputar o segundo turno com Alexandre Ferreira. Atualmente ocupa o cargo de diretora regional adjunta da CIESP/FIESP de Franca, a convite de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Ela é a segunda entrevistada do programa “Se você fosse o prefeito”, que entrevista pessoas ativas na política de Franca e região e está sendo apresentado quinzenalmente pelas redes sociais Facebook e Instagram, do Jornal Verdade e da Sociedade Organizada.
Todas as perguntas foram elaboradas de acordo com o contexto pelo qual a cidade atravessa, buscando encontrar soluções através de medidas alternativas, para a administração municipal.
Marcela Barros: A respeito dos fura-filas, recentemente tivemos esse escândalo na cidade, no programa de vacinação contra o Covid, o que você faria se você fosse o prefeito e como fiscalizaria essa situação?
Flávia Lancha: É inadmissível aceitar essa questão dos fura-fila. Uma situação tão grave que as pessoas esperam tanto pela vacina. Eu vejo um problema de logística que começa desde lá atrás, com pessoas ficando horas na fila, com injeções sendo aplicadas sem o líquido. Em Ribeirão Preto todo o agendamento era feito pelo celular e imediatamente a pessoa recebia o dia, a hora e o local em que seria vacinada. Funcionou muito bem. Isso teria com certeza evitado o fura-fila, porque teria um cadastro. Mas tem que dar sequência, saber quem foram as pessoas e porque aconteceu isso. Outra coisa, o gestor é sim o responsável, por exemplo, eu sou empresária, se acontece um erro dentro da minha empresa, quem tem que responder sobre erro sou eu. Então, nós precisamos urgente saber o que aconteceu e porque aconteceu.
Fernando Calixto: Flávia, com o avanço da Covid e as constantes mudanças que isso traz, a falta de leitos aqui em Franca tem assolado a sociedade. Se você fosse prefeita, o que você faria com relação a essa falta de leitos e qual seria a maneira que você lidaria com isso?
Flávia Lancha: Primeira questão, Franca é a regional administrativa de 22 cidades, então não adianta pensar só na nossa cidade, teria que ter feito uma reunião com todos os prefeitos que fazem parte do COMAM (Consórcio de Municípios da Alta Mogiana), para que as ações fossem tomadas em conjunto, segundo ponto, faltou articulação do prefeito com o governador para que viessem verbas para as UTI’s, terceiro aspecto, hoje com informações da própria Santa Casa, um leito e UTI necessita de 9 profissionais fora o médico e não há esses profissionais disponíveis. Então a prefeitura precisaria estar capacitando pessoas para que elas assumissem essas ações. O principal problema foi a falta de planejamento, sendo que a pandemia é o nosso principal e mais doído problema.
Marcela Barros: Após 15 dias de “lockdown” a população acredita que não obteve o resultado esperado. O que você faria se você fosse o prefeito?
Flávia Lancha: Essa pergunta do lockdown é muito interessante, porque foi a principal “fakenews” no segundo turno, pelo prefeito, pelo vice, por todos os assessores, de que eu era a favor do lockdown, que eu fecharia tudo, e a promessa dele de que não adotaria essa medida. Bom, acabamos de ver o lockdown na cidade, se fosse eu não deixaria chegar no nível crítico que chegou. Como chegou a esse nível a atitude que parecia mais coerente era adotar o “lockdown”, mas teria que ter tido um mapeamento do maior número dentro da cidade dos focos de contaminação, trazer os líderes comunitários, porque enquanto a população não se sentir parte do problema ela não irá ajudar, porque ela não compreende começa a ter uma noção quando as mortes acontecem próximas, e também trabalhar com contenção, fazer os testes rápidos. Eu, Flávia, teria feito a melhor forma possível para evitar o “lockdown”.
Fernando Calixto: O prefeito atual enviou para a Câmara um pedido de parceria com a empresa São José no valor de aproximadamente um milhão e trezentos mil reais que seriam para custear passes para a população mais pobre. Flávia, você enviaria um pedido desse jeito para a Câmara?
Flávia Lancha: Nós estamos vivendo a situação mais grave que o mundo, o país, a nossa cidade já viveu. Todos os olhares, todas as ações têm que ser no controle da pandemia. Não faz sentido nenhum, hoje, um subsídio para a empresa São José nesse momento. Além do que, não estão tendo cursos, as pessoas mal estão conseguindo trabalhar, e outra questão gravíssima é o tanto de gente que está assando fome. Esse dinheiro daria para dar uma ajuda para que a pessoa conseguisse passar esse momento em que há tantos desempregos. Então jamais eu daria esse subsídio para a São José, principalmente nesse momento.
Marcela Barros: Flávia, o prefeito alega ter um superávit dos recursos do Covid, encaminhados pelo governo federal, mais precisamente da quarta parcela. O que você acha a respeito e o que você faria se fosse o prefeito?
Flávia Lancha: Importante deixar claro para as pessoas que Franca recebeu 65 milhões e 300 mil reais, tem empenhado 58 milhões e 500 mil reais, logo tem uma sobra de 6 milhões e 800 mil reais. Se tem sobra, tem que ser usada sim para contenção da pandemia, e o que poderia ser feito? Por exemplo, lá atrás uma das alternativas seria um hospital de campanha, os testes em massa. Gente, com testes em massa já teria sido contida essa pandemia não teria chego nessa crise que estamos assistindo. Então é preciso que todo dinheiro que vem para a Covid, seja usado para a Covid.
Fernando Calixto: Flávia, como você vê a relação Câmara prefeitura, a gente sabe que a obrigação do legislativo, na realidade um dos papéis do legislativo é fiscalizar o executivo, só que aqui em Franca a gente não vê muito bem isso, é um pouco diferente. Se você fosse prefeita, como você acha que deveria ser essa relação legislativo-executivo, prefeitura-câmara?
Flávia Lancha: Um dos principais papéis do vereador é fiscalizar, e o que a gente vê? Poucos vereadores fiscalizam, e isso acontece porque tem uma dependência muito grande do vereador em relação ao prefeito, porque para ele conseguir aprovar ou fazer algumas coisas que ele necessita, ele precisa do aval do prefeito. Se eu fosse prefeita, a questão é você convencer os vereadores de que que as suas ações são boas para a sociedade, para a comunidade, e não fazer um “troca-troca” que infelizmente é o que a gente vê com frequência.
Marcela Barros: Como você enxerga a relação do governo do estado com a nossa cidade e o que você faria se você fosse o prefeito?
Flávia Lancha: Franca vem perdendo o protagonismo e não é de hoje, e isso é muito em função da maneira como o gestor atua. A partir do momento que o gestor assume a prefeitura, ele não pode ter ideologia. Eu posso por exemplo não gostar do Dória ou não gostar das ações que ele faz, mas a partir do momento que eu tivesse assumido a prefeitura, a primeira coisa que eu faria era me reunir com ele e conversar, porque a cidade é o mais importante. A gente tem que pensar de que forma nós podemos melhorar o dinheiro que vem para a cidade. Então era preciso ter mais articulação com o governo do estado.
Fernando Calixto: Aqui em Franca, nos últimos anos, muitas fábricas têm deixado a cidade e ido para outros estados, e muitas outras opções eles têm encontrado lá. Com a chegada da pandemia isso tem se acentuado e feito com que mais fábricas deixem. Houve também o “lockdown” onde fábricas foram prejudicadas e até cogitaram deixar a cidade. Se você fosse prefeita, você teria um plano para que as fábricas não deixassem mais a cidade?
Flávia Lancha: A questão do setor calçadista já vem de alguns anos, não é de agora da pandemia, e algumas questões que eu tenho muito clara, falta sim apoio do governo municipal e do bendito problema em relação ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é do governo estadual, esse é um aspecto que vem se agravando ao longo do tempo. Outra questão é o próprio setor, falta união, se a gente pega por exemplo uma cidade como Serrana, eles são muito unidos, buscam um objetivo comum, em Franca há uma disputa entre os empresários. Outra questão é a maneira como eles olham o próprio funcionário, falta capacitação. Eu sou diretora do DEPAR, e o SENAI, ligado ao FIESP/CIESP, está sempre promovendo cursos, gratuitos, mas eles não conseguem o número ideal para que esses cursos aconteçam, então esse é um problema. Outra questão é a exportação. Hoje, o setor calçadista da nossa região perdeu a liderança para o setor cafeeiro. A questão da exportação precisa sim ser retomada e nós precisamos de ações para que a exportação continue. Eu consegui junto ao SENAI Franca que eles fizessem uma parceria com o SENAI de São Bernardo do Campo para que eles fizessem uma análise do sapato, para saber se tem elementos como cromo, porque os Estados Unidos por exemplo não aceitam que entrem esse tipo de sapato, e a partir desse ano conseguiremos fazer isso aqui em Franca, que deve ajudar a exportação calçadista.
Marcela Barros: Flávia, eu gostaria que você deixasse uma mensagem para os nossos seguidores e também para os nossos governantes.
Flávia Lancha: Nós temos um problema muito grave que é a situação economia, e para sair dessa situação, para que a gente melhore a situação econômica são dois passos, a vacina e união do governo e da sociedade civil. Só quando a gente tiver um número grande de vacinados que nós teremos uma melhor condição para o setor econômico. Antes que a vacina chegue nós precisamos unir para que juntos consigamos vencer esse momento tão difícil, momento de perda de pessoas queridas e de emprego, perda de renda. Vamos ser conscientes, vamos ser responsáveis, quando eu cuido de mim eu cuido do outro. Usem máscara, lavem as mãos, evitem aglomeração e mantenham distanciamento. Juntos nós podemos sair dessa.
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O vídeo pode ser assistido na íntegra através das páginas do Jornal Verdade e Sociedade Organizada nas redes sociais.