João Rocha foi vice-prefeito de Maurício Sandoval Ribeiro, candidatou-se à prefeitura de Franca em 2020, quando ficou em terceiro lugar com 25.860 votos e hoje é Coordenador Regional do PSL, responsável por dezesseis cidades. Ele foi o primeiro entrevistado do programa “Se você fosse o prefeito”, que entrevistará pessoas ativas na política de Franca e região e veiculará quinzenalmente pelas redes sociais Facebook e Instagram, do Jornal Verdade e da Sociedade Organizada.
Todas as perguntas foram elaboradas de acordo com o contexto pelo qual a cidade atravessa, buscando encontrar soluções através de medidas alternativas, para a administração municipal.
Marcela Barros: João Rocha, se você fosse o prefeito, qual seria a sua postura diante do escândalo dos “fura-filas” na cidade?
João Rocha: nós já tratamos desse assunto na página do PSL e na minha página pessoal. Nós temos uma situação que já foi inclusive confirmada pelos vereadores e é real. Temos inclusive uma depoente que chegou a confessar que duas pessoas da família foram vacinadas fora do tempo e usando de um sistema que precisamos apurar. Se eu fosse o prefeito, não tenha dúvida, eu traria às claras a lista que ocorreram o problema. A população precisa ser respeitada. Nesse momento de pandemia, a verdade, a clareza e a transparência não podem faltar.
Fernando Calixto: Com relação aos leitos, com o avanço da contaminação por Covid, se você fosse o prefeito, o que você faria com a falta de leitos? Qual seria sua maneira de lidar com isso João?
João Rocha: desde os primeiros dias da pandemia vem se falando da questão do aumento do número de leitos e nós sabemos que vieram para Franca cerca de 40 milhões de reais. Eu, se fosse o prefeito, além dos remédios, além dos cuidados sanitários, além dos pedidos que nós temos que fazer para que a população se cuide, teria olhado principalmente para o aumento de leitos e a manutenção, porque o que nós vimos foram leitos sendo criados e retirados constantemente e a situação precisa ser mantida para que nós tenhamos um equilíbrio que irá repercutir no comércio, na indústria e na segurança da nossa população. Até que a pandemia passe e o número de vacinas venham a acontecer em um número razoável, os leitos precisam estar aí e estáveis. A minha situação seria de colocar e procurar a manutenção dos leitos.
Marcela Barros: Quais medidas você tomaria em relação ao “lockdown” e fechamento da cidade se você fosse o prefeito?
João Rocha: eu acredito que para se chegar a uma situação de “lockdown” é preciso ter um planejamento, uma equipe pensando sobre isso, e essa equipe pensante juntamente com o prefeito e sua assessoria, ela precisa ter um grupo de empresários e de médicos, ou seja, uma frente de enfrentamento do Covid, para que nós não tivéssemos uma situação como a que estamos vendo agora, uma situação preocupante onde até farmácias e laboratórios foram fechados. As pessoas precisam cuidar além do Covid, de outras doenças, e está tudo fechado, e há também um problema dessa situação de atendimento “delivery”, então eu pergunto, uma família precise comprar um litro de leite e quatro pães por dia, que custa em torno de 8 reais, como que essa família poderá pagar a entrega de 8 reais? Não há condição financeira para isso. Eu particularmente, não fecharia na totalidade como foi feito, que aliás, o prefeito prometeu em campanha, dizendo que não faria “lockdown”.
Fernando Calixto: A administração municipal encaminhou a Câmara um pedido de parceria com a empresa São José, para que fossem custeados passes de cerca de R$ 1.350.000,00, se você fosse o prefeito você pediria esse projeto ou qual sua opinião em relação a isso?
João Rocha: poucos dias antes dessa situação vir à tona eu fui entrevistado em relação à atual administração e fui questionado o que estava achando da atual administração na marca dos seus cem dias, quando respondi que era um momento ainda muito curto para se fazer uma análise e que teria que respeitar o prefeito, porque tenho a obrigação de torcer para que ele acerte. Mas esse projeto foi para Câmara, esse dinheiro de 1.350.000 está sendo retirado da verba Covid, esses valores são o suficiente para comprar cerca de 315.000 passagens de ônibus, e o prefeito veio tentar justificar que estas passagens são para serem utilizadas pelas pessoas que usam os CREAS, CRAS e cursos de aprendizado fornecidos pela prefeitura. Os cursos estão parados, os CREAS e CRAS estão fechados. No meu entendimento é subsídio disfarçado sim, eu não mandaria esse projeto para a Câmara. Eu tenho até uma gravação do presidente da Comissão que estava analisando esse projeto, que é um vereador, onde ele diz que esse subsídio do prefeito é menor do que o subsídio que foi encaminhado na gestão passada. O Alexandre disse nas redes sociais, “o João está falando bobagem”, mas eu não falo bobagens, aliás, o que eu estou falando aqui, se alguém puder me desmentir, que o faça. O meu entendimento é: é subsídio sim disfarçado. Eu sei que o transporte coletivo é essencial e que precisa ser olhado com carinho, mas se for para discutir a situação da empresa São José, tem que ser discutido com transparência. Tem um projeto na Câmara que um vereador apresentou para que a bilhetagem eletrônica seja apresentada à população e àqueles que fiscalizam de forma independente, porque não se discutir esse projeto primeiro antes de se dar dinheiro para a empresa São José, e o que é pior, em regime de urgência, retirado da verba Covid. Ele retira dinheiro do Covid para dar para a empresa São José e ao mesmo tempo vai à São Paulo dizer que não dinheiro e que Franca precisa ser ajudada, que contrassenso é esse?
Marcela Barros: o prefeito Alexandre Ferreira alega que há um superávit dos recursos do Covid, mais precisamente em relação à 4ª parcela vinda do governo federal, o que você acha disso João?
João Rocha: Marcela, superávit é quando sobra. Na verdade, esse caso aí é porque o dinheiro encaminhado pelo governo estadual, repassado pelo governo federal, não foi utilizado na totalidade, então passou de um ano para outro sem ser gasto, se tivesse superávit estaria sobrando dinheiro e poderia se colocar mais leitos. Não podemos tratar a população como se eles estivessem alheios e bobos em todas as situações. Não se pode tratar nesse momento de um projeto disfarçado para favorecer uma empresa que tem inúmeras situações de suspeição em várias administrações anteriores. O próprio prefeito perdoou e fez um acordo na justiça, no outro mandato dele, onde a empresa já estava condenada e ele liberou a empresa das penalidades. Vimos na gestão passada serem dados 10 anos a mais para essa empresa para trabalhar em Franca sem concorrência, e o ex-prefeito procurando mandar projeto para a Câmara para ser dado 4 milhões e trezentos mil reais para a empresa. A população precisa ser esclarecida, vamos tratar com a verdade.
Fernando Calixto: Como você vê a relação Câmara-Prefeitura? A gente sabe que o legislativo tem como uma das obrigações fiscalizar o executivo, mas aqui em Franca é um pouco diferente, você acha que o legislativo deve seguir cegamente o executivo?
João Rocha: no início dos mandatos é natural que haja uma aproximação entre prefeito e vereadores, as vezes bem intencionados, querendo o melhor para a cidade. Mas essa aproximação não pode ir ao nível da subserviência. Nós precisamos que o executivo tenha uma boa relação com o legislativo, mas o legislativo precisa ter independência, precisa fiscalizar, sem votar de qualquer forma todos os projetos que recebe. Eu que vivo há mais de quarenta anos fazendo política em Franca posso dizer, é necessário que se tenha uma oposição, desde que a oposição seja feita de forma consciente e clara. O que for bom para a cidade iremos elogiar, e o que for problema para a população vamos denunciar.
Marcela Barros: como você enxerga a relação do governo do estado em relação à pandemia?
João Rocha: quando se fala de governo do estado, inevitavelmente se lembra de um nome chamado Dória, e a própria população já sabe o que ele tem feito pelo nosso estado. Aliás, é bom que fique claro o seguinte, os valores que vieram para Franca e para os estados, foram repassados do governo federal, porque o Supremo Tribunal Federal determinou de forma legal que o governo federal só poderia repassar o dinheiro e que as atitudes, atividades e aplicação desse dinheiro ficaria a cargo do estado e dos municípios. Vejo o estado correndo atrás de vacinas e ele não está fazendo mais do que a obrigação, precisamos delas sim, mas há uma série de situações que a questão Covid foi politizada, e o nosso governador querendo se fazer, quem sabe presidente, tem tido algumas posições que só têm prejudicado o nosso estado.
Fernando Calixto pergunta: nos últimos tempos as fábricas têm se mudado ou fechado aqui em Franca, e com o “lockdown” e com a pandemia isso tem se acentuado mais, se você fosse o prefeito, o que faria para tentar mudar essa situação?
João Rocha: isso é um conjunto de situações que já se arrasta há algumas décadas, e eu preciso dizer, quando há uma guerra fiscal e outros estados oferecem impostos menores aos nossos fabricantes, muito pouco o prefeito pode fazer, e por isso perdemos no passado muitas fábricas. Mas tenho ouvido pela imprensa que pela pandemia fábricas estão sendo fechadas, fábricas estão sendo lacradas e penalizadas, e o industrial tentando explicar à administração pública que ele tem contratos com penalidades que precisam ser cumpridos, com multas altas caso não entregue essas mercadorias conforme reza o contrato. Eu penso que essas fiscalizações precisam ser olhadas com mais carinho, pois o nosso industrial precisa de um olhar diferente da Administração porque é ele quem gera empregos. Então toda a atividade econômica da cidade, como também o comércio, precisa receber um olhar diferente, onde o canal de conversação fique aberto e os problemas sejam solucionados de comum acordo entre a administração, sindicatos e empresários.
Marcela Barros: Para finalizar, quero você deixe uma mensagem para quem está nos acompanhando e para os nossos governantes.
João Rocha: Quero dizer à população que nós precisamos nos unir e que os cuidados sanitários devem ser tomados no dia-a-dia, mas ao contrário do que estão dizendo, que este é um momento de união e não de críticas, devo dizer que se eu estivesse que estar unido umbilicalmente ao prefeito eu teria aceito o convite para ter sido candidato a vice-prefeito com ele em 2012, e não fui porque as nossas origens políticas são diferentes. Por exemplo, eu não poderia em hipótese alguma estar sujeito a estar respondendo a um processo dos médicos falsos, eu não podia estar eventualmente sujeito a uma polícia federal batendo na minha porta e levando meu computador e celular, eu não poderia estar misturado a uma situação de pagamento de obras pagas com verba federal sem estarem acabadas, eu não poderia participar de uma campanha dizendo à população das academias dizendo que eles poderiam votar em mim que as academias ficariam abertas, eu não poderia estar em uma campanha onde o prefeito disse claramente que era contra o “lockdown”, eu não poderia estar numa campanha onde o prefeito no IMA e disse que envidaria todos os esforços para ajudar o IMA e depois gravou um vídeo dizendo que o lugar só tinha quartos. Começa a sobrar pouco espaço para o prefeito em termos de credibilidade. A minha posição é de opositor, mas de opositor consciente, que elogiei por exemplo a criação dos 21 leitos. Precisamos lutar para que o IMA se constitua em um hospital emergencial e depois se perenize porque faltam leitos em Franca. Em momentos que eu achar que a população está sendo prejudicada pela câmara ou pelo prefeito, nós vamos levantar nossa voz porque voltamos a fazer política, e podemos fazer de cabeça erguida, coisa que poucos políticos podem fazer.
O vídeo pode ser assistido na íntegra através das páginas do Jornal Verdade e Sociedade Organizada nas redes sociais.