Cercada de pastagens, plantações de cana-de-açúcar, eucalipto e laranja, uma área de 292 hectares no interior de São Paulo abriga cinco dos cerca de 1.300 indivíduos remanescentes na natureza de muriqui-do-sul, ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides). Junto com o muriqui-do-norte (B. hypoxanthus), os mono-carvoeiros representam os maiores primatas das Américas, endêmicos da Mata Atlântica e exclusivos do território brasileiro.
Observar do chão a família residente na Estação Ecológica do Barreiro Rico, uma unidade de conservação integral estadual criada em 2006, não é fácil para os humanos, primatas que há muito perderam a habilidade de escalar árvores com destreza. Mestres da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sobrevoam a copa das árvores com drone dotado de um sensor termal e de uma câmera. No começo da manhã e no fim da tarde, quando as temperaturas são mais amenas e os galhos e folhas estão mais frios, é mais provável detectar os muriquis pelo calor emanado de seus corpos, de braços alongados e barriga protuberante.
Com autonomia de 20 minutos em cada bateria (são quatro no total), o drone percorre grande parte da área. Quando detecta os muriquis, é possível ir até eles no meio da floresta. Então pode-se observar se estão juntos ou separados, o que estão comendo, se estão se reproduzindo, se têm filhotes ou fêmeas grávidas, entre outras informações. As coletas de dados vão até o final do dia, quando param para dormir. No total, são 12 indivíduos conhecidos na chamada Área de Proteção Ambiental do Barreiro Rico, que junto com a Estação Ecológica compõe um mosaico de cerca de 30 mil hectares, com fazendas, empresas e fragmentos de Mata Atlântica. No caminho entre essas porções de floresta, porém, existem estradas, fios de alta tensão, plantações, pastagens e construções, o que atrapalha, quando não impossibilita, os grupos de se encontrarem e se reproduzirem entre si.
Conectar a população de muriquis é essencial para a conservação da espécie. Medidas para a sua conservação podem contribuir especialmente com as outras quatro espécies de primatas presentes na área: bugio-ruivo, macaco-prego, sagui-da-serra-escuro e sauá. E também com as mais de 200 espécies de aves e mais de 30 de mamíferos terrestres, como quatis, jaguatiricas, onças-pardas, tamanduás-bandeira, queixadas e catetos.
A principal forma de fazer a ligação da área com outros remanescentes são os chamados corredores ecológicos, florestas que conectem os fragmentos de Mata Atlântica então isolados. Esse é o objetivo de um grupo de pesquisadores, ONGs e da Fundação Florestal, órgão que administra as unidades de conservação do Estado de São Paulo. (Fapesp)