Neste final de semana acontece uma dobradinha no IPRA, no bairro Estação: os espetáculos Olhos de Céu e O Sorriso de Mia. Ambas montagens são frutos da Lusco-Fusco – Ateliê de Criação, criada e coordenada pelo professor e diretor teatral Mauro Júnior, que também assina a direção dos dois trabalhos.
O foco das duas montagens é interseccionar a literatura e o teatro, aprofundando, de forma teórica e prática, o termo cunhado pelo poeta e tradutor brasileiro Haroldo de Campos, o da “transcriação”. Transcriação aqui como uma forma de transladar a literatura para a linguagem cênica, articulando, para além da linguagem e da estética literária, as linguagens e estéticas performativas,
visuais e sonoras do teatro.
Em Olhos de Céu, transcriação do livro infantojuvenil “Ela Tem Olhos de Céu”, da escritora cearense Socorro Acioli, premiada em 2013 com o Prêmio Jabuti, na categoria infantil, com este título, depois do nascimento de Sebastiana, nada será como antes em Santa Rita do Norte: a menina tem olhos de céu. Será dom ou maldição? A cidade inteira está em polvorosa, ninguém sabe mais o que fazer para controlar os fenômenos provocados pela pequena criança. Em Santa Rita do Norte, tudo pode acontecer. Em nossa transcriação, a dramaturgia se apropria de trechos do livro de Acioli, mas também lança mão de cordéis como de Bráulio Bessa e diálogos escritos durante as improvisações de cenas.
Criamos na encenação o imaginário de uma estação de rádio popular na cidade de Santa Rita do Norte, cidade nordestina fictícia onde se passa a história, a Rádio Taperoeba, comandada pela radialista local Solange de Nazareth, personagem criada por nós para alinhavar a história de Sebastiana, apresentada como uma radionovela, com direito a narradores, atores interpretando as
personagens do livro de Acioli, sonoplastas, cantores de auditório ou jingles de patrocinadores, evocando assim o imaginário das antigas radionovelas.
Já O Sorriso de Mia é a transcriação de 3 contos do escritor moçambicano Mia Couto. A literatura de Mia Couto é carregada de lirismo, realismo mágico ou fantástico, uso de neologismos, marcas de oralidade e valorização da memória cultural de seu povo. Os 3 contos escolhidos que estão no espetáculo, “A Menina Sem Palavra”, “Peixe Para Eulália” e “Inundação”, refletem seu traço estilístico, sua forma onírica de narrativa. Um dos elementos em comum dos 3 contos é a água, real ou alegórica, sua fluidez, sua limpidez, sua força e função curativa e de limpeza. Em “A Menina Sem Palavra” é o mar, suas profundezas e mistérios.
Já em “Peixe Para Eulália” a chuva e suas bênçãos, sua magia salvadora em tempos de secura e crueza. E em “Inundação” um rio que tudo leva, o tempo que se esvai, as águas que curam traumas passados. A montagem trabalha a coralidade, tendo seus atores ora músicos, ora narradores, ora personagens dos contos, numa encenação que dá destaque para a palavra do autor moçambicano, mas que também cria imagens tão cheias de sonhos e significados quanto os seus contos.
No sábado, 03/02, haverá também a festa Forrobodó, a partir das 22h, no mesmo local das apresentações.
SERVIÇO
Datas:
03/02 (sábado) – Olhos de Céu
04/02 (domingo) – O Sorriso de Mia
Horários:
Três sessões | 19h, 20h e 21h
Local:
IPRA | R. Diogo Feijó, 1956, Estação
Convites:
Vendidos na bilheteria | Combo: R$ 20 (dá o direito de assistir aos dois espetáculos) / R$ 15 (cada espetáculo) | 70 lugares por sessão.
Recomendação etária:
Livre