O verão começou oficialmente para a maior parte do território brasileiro na última quarta-feira, 21. A estação é marcada pelo período de elevação das temperaturas e é preciso lembrar que os cuidados com a pele nesse período devem ser redobrados a fim de mantê-la saudável e diminuir o risco de câncer de pele.
Foi pensando nisso que a Sociedade Brasileira de Dermatologia criou em 2014 a campanha Dezembro Laranja. Assim como as ações do Outubro Rosa – que reforça a necessidade de prevenção contra o câncer de mama – e o Novembro Azul – que conscientiza sobre o câncer de próstata – o Dezembro Laranja faz parte da Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele.
O câncer de pele é o mais frequente no Brasil, mas quando descoberto no início a doença tem mais de 90% de chance de cura.
Para falar sobre o tema, sintomas, causas e prevenção o jornal Verdade conversou com a dermatologista da Unimed Franca Andrezza Camarinha Napolitano Barcelos. Formada na Faculdade de Medicina de Marília, a médica fez residência na USP (Universidade de São Paulo), tem mestrado em ciências área de concentração dermatologia também na USP e é especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O que é o câncer de pele?
O câncer de pele é uma doença que ocorre devido ao desenvolvimento anormal das células da pele.
Estamos em um país tropical, podemos dizer que ele é um dos tipos mais comum no Brasil?
Não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pele representa cerca de 30% dos diagnósticos de tumores malignos e vai afetar mais de 185 mil pessoas no Brasil em 2022.
Qual a principal causa do câncer de pele?
O principal fator de risco para câncer de pele é a exposição à radiação ultravioleta (UV) do sol. Moramos em um país tropical, com alta incidência solar o ano todo, por isso a importância dos cuidados de prevenção. O efeito da radiação UV é ainda mais intenso em pacientes de pele e olhos claros, ou com antecedentes pessoais ou familiares de câncer de pele.
Quais são os primeiros sinais do câncer de pele?
Existem diversos tipos de câncer de pele, mas é comum diferenciá-los como melanoma (aproximadamente 5% dos casos) e não melanoma (aprox. 95% dos casos). O melanoma é o tipo mais agressivo de câncer de pele, que pode chegar a dar metástases e até levar a óbito. Costuma surgir como uma pinta normalmente escura ou com cor não homogênea, assimétrica e com bordas irregulares, ou que mudou de tamanho, formato e cor. Já as pintas benignas costumam ser simétricas, com bordas regulares, com cor homogênea e não mudam com o tempo. O câncer de pele melanoma pode ser totalmente curado se diagnosticado precocemente, mas pode ser desafiador e com tratamento menos efetivo quando diagnosticado em fases mais avançadas. Já entre os tumores de pele não melanoma, os mais comuns são o carcinoma basocelular que costuma se apresentar com lesões enduradas, avermelhadas ou castanhas que podem causar sangramento; e o carcinoma espinocelular, que normalmente é uma lesão avermelhada, espessa e que não cicatriza. Esses tumores não costumam dar metástases, mas podem ser agressivos localmente. Quando diagnosticados precocemente, também têm altas taxas de cura.
Qual o tipo de câncer de pele mais perigoso?
O melanoma é o tipo mais agressivo de câncer de pele, pois se não for diagnosticado precocemente pode causar a morte.
O câncer de pele é mais comum em alguma idade ou gênero?
O câncer de pele é mais comum em pessoas acima de 40 anos, mas com a frequente exposição dos jovens aos raios solares a média de idade dos pacientes vem diminuindo. Com relação ao gênero, costuma acometer mais homens, principalmente por maior exposição solar no trabalho, mas a incidência tem aumentado em mulheres por maior exposição intencional (bronzeamento natural ou artificial). Por outro lado, as mulheres costumam utilizar filtro solar com maior frequência e regularidade do que os homens. As mulheres costumam procurar assistência médica com maior frequência, por isso costumam diagnosticar o câncer de pele em fases mais precoces.
Estamos acostumados a acompanhar iniciativas de conscientização de prevenção contra o câncer como o Outubro Rosa e Novembro Azul, mas o Dezembro Laranja, campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele, ainda é pouco falado. Qual a importância dessa ação?
O ‘Dezembro Laranja’ ainda precisa ser mais divulgado, com certeza, mas temos notado a cada ano uma maior visibilidade do mesmo. A maior importância dessas campanhas é a conscientização das pessoas quanto ao câncer de pele. Essas campanhas fazem com que as pessoas comentem sobre doença, busquem informações, estimula o auto exame e orienta sobre medidas de prevenção.
Como se proteger contra o câncer de pele? É possível evitar a doença?
Como o principal fator de risco para o câncer de pele é a radiação UV, a melhor medida de prevenção é a fotoproteção. Usar chapéu e roupas apropriadas, óculos escuros, evitar a exposição ao sol entre as 10 e 16 horas e observar a própria pele regularmente em busca de pintas ou manchas suspeitas são dicas importantes. Além disso, o uso regular de filtro solar é fundamental. Devemos escolher um filtro solar que tenha um amplo espectro, ou seja, que proteja contra os raios UVA e UVB, com fator de proteção solar (FPS) de no mínimo 30.
Hoje existem protetores para todos os tipos de pele. Quem tem pele oleosa deve optar por versões em gel, loções oil free, protetores de toque seco. Para atividades esportivas uma boa opção são os protetores em bastão, com boa fixação e não escorrem com o suor. Para aqueles que gostam de maquiagem, existem diversas opções de filtros com cor. Na dúvida, o melhor é pedir orientação ao dermatologista, que deve ser consultado pelo menos uma vez por ano para um check up de pele, principalmente se há história familiar ou pessoal de câncer de pele.
Recentemente viralizou a foto de uma senhora que era adepta do protetor solar, mas apenas no rosto, o que deixou ainda mais clara a importância do uso do produto. Como conscientizar as pessoas sobre isso?
Costumo sugerir aos meus pacientes que observem a pele de pessoas idosas da família. Às vezes a pele do rosto parece ter 20, 30 anos a mais do que a pele de áreas protegidas, como abdome e infra mamária. Com isso podemos notar o efeito deletério e cumulativo da radiação UV na pele. Não existem tratamentos estéticos que tenham esse poder de rejuvenescimento. Então para ser ter uma pele saudável e bonita no futuro é preciso cuidar dela com zelo e atenção no presente!
Hoje qual seria a dica/orientação mais importante que daria como dermatologista para as pessoas em relação a saúde da pele?
Vivemos em um país tropical, abençoado, e devemos curtir nossos dias lindos e ensolarados, mas com muito cuidado e prudência. Ao se expor, evite horário de pico do sol, exposição prolongada, utilize bons filtros solares e proteção adicional como roupas e chapéus. Lembre-se sempre da reaplicação do filtro, pois o mesmo vai perdendo a eficácia com o tempo. Em praia, piscinas, exposição mais intensa por esportes, o ideal é a reaplicação a cada 2 a 3 horas. É importante também a boa ingestão de água e uso de hidratantes, para evitar o ressecamento excessivo da pele.
Aproveitando, não falando apenas de câncer de pele, mas quais são as doenças de pele mais comuns hoje no Brasil?
Temos muito casos de manchas em face, como o Melasma – também relacionado a exposição solar, acne, pintas benignas, micoses e alergias. Em casos de lesões ou alterações na pele, o mais importante é que a pessoa procure sempre um dermatologista, para um diagnóstico precoce e tratamento individualizado.
Qual os cuidados básicos mais importantes que uma pessoa deve manter hoje com a pele?
Atualmente fala-se muito em skin care (cuidados com a pele). Ele pode ter várias etapas, caso o paciente goste ou deseje. Mas não precisa ser complicado e complexo. Entre os mais básicos lavar com sabonete adequado (há opções para peles secas, oleosas, sensíveis). Hidratação adequada que pode estar associada com algum produto que ajude na prevenção do envelhecimento E uso regular de filtro solar + proteção da pele. O dermatologista pode auxiliar na escolha dos produtos e rotina mais adequados para a pele do paciente de acordo com as queixas e objetivos.
Para finalizar gostaria de dar mais alguma dica para quem está lendo cuidar da pele da melhor forma?
Em nossa região temos muitos ranchos que propiciam atividades aquáticas e agora está muito em alta o beach tênis. Ambas atividades requerem atenção especial, pela alta exposição solar. Além do risco de envelhecimento da pele e câncer de pele no longo prazo, temos o risco de queimaduras solares agudas e insolação. Vale as mesmas dicas: evitar horário de pico e caprichar na proteção. E com relação a outras doenças de pele que são bem comuns que comentei acima, o Melasma costuma piorar no verão. E as micoses também requerem atenção, mantendo os pés bem secos, cuidado em ambientes como praias e piscinas públicas, sempre lavar bem os pés e tomar banho após esses contatos, evitar roupas e sapatos muito quentes que favorecem transpiração e umidade e secar bem os pés depois do banho.