Depois de dois mandatos como diretor financeiro da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Franca, o diretor executivo Paulo Henrique Ferreira, de 51 anos, assume a partir de janeiro a presidência da instituição.
Francano de coração, o empresário é natural de Ribeirão Preto, foi criado em Altinópolis, mas chegou em Franca há mais de 20 anos. Paulo começou sua relação com a APAE Franca há seis anos depois de um convite do atual presidente, Agenor Gado. “Naquele momento precisávamos de um grupo forte para assumir e tornar a entidade autossuficiente. Aceitei o desafio.”
A APAE Franca conta com mais de 330 funcionários e presta serviço de excelência em três áreas fundamentais: Saúde, Educação e Assistência Social. A instituição, que completa 53 anos em janeiro, tem um orçamento anual superior a R$ 13,3 milhões. Deste montante, 65% é oriundo de repasses do Poder Público (Municipal, Estadual e Federal). O restante do déficit é custeado através de campanhas como telemarketing, Leilão da Apae, Festa de San Genaro, entre outros.
Hoje são realizados pela instituição mais de 8,6 mil atendimentos na área socioassistencial para usuários em estado de vulnerabilidade social por mês; mais de 6,1 mil procedimentos de média e alta complexidade na área da saúde; e mais de 20,6 mil refeições são servidas todos os meses, mostrando a grandiosidade do trabalho prestado.
Em entrevista ao Verdade, o novo presidente falou sobre as expectativas e desafios da nova gestão.
Como começou a sua história com a APAE Franca?
Minha história com a APAE Franca começou seis anos atrás após um convite do Agenor Gado, atual presidente, que me convidou para compor o conselho e a diretoria. Precisávamos fazer algumas mudanças e ajustes. Ele precisava de um apoio de alguns empresários que tivessem um lado mais técnico para fazer a APAE se transformar em uma gestão essencialmente de negócio, corporativista. Muitas vezes as pessoas têm dificuldade em entender que a instituição precisa pagar suas contas como qualquer empresa e aí o Agenor juntou um monte de empresários para ajustar essa cultura. É uma entidade que depende de doações, não apenas de dinheiro, mas também de tempo. Internamente os colaboradores precisavam entender que pra entidade funcionar ela precisaria ter um pensamento corporativista. E, claro, para manter a qualidade, a entidade precisava passar confiança. Naquele momento a APAE estava com uma dificuldade gigantesca. Com duas folhas de pagamento atrasadas, muitos sem receber férias, quase R$ 1 milhão em dívidas. Uma situação caótica. Nos juntamos e fizemos esses ajustes de governança e começamos a resgatar alguns empresários e doadores que naquele momento estavam distantes. Então foi assim que minha relação com a APAE começou.
O que te motivou a assumir agora a responsabilidade de ser presidente da APAE Franca?
Não foi motivação, foi estratégia. As diretorias da APAE dependem muito do trabalho que é desenvolvido no percurso da gestão. Para que se dê continuidade nos trabalhos que estão sendo feitos há seis anos precisava de pessoas que estavam envolvidas diretamente com esses processos e mudanças e naturalmente eu acabei sendo convocado e assumi esse compromisso. O trabalho que estamos fazendo desde 2017 é para que a entidade seja autossuficiente e que a diretoria seja apenas um apoio da administração. A APAE precisa ter seu próprio norte. Não acreditamos que o principal é a diretoria, ela é apenas o apoio para a gestão acontecer.
Neste período como diretor financeiro da APAE Franca, qual você acha que foi o seu maior desafio?
Pagar as contas. O custo operacional cresceu absurdamente, especialmente pós pandemia. E outra, a APAE não parou na pandemia. A escola fechou, mas a saúde não parou e nem a assistência. Aliás, a assistência nunca esteve tão atuante como nesse período. Muitas vezes as pessoas, de forma leiga, pensam ‘ah, mas está tudo fechado’. E não, não é assim. Uma situação que muitas vezes passa despercebido para a sociedade como um todo é que a APAE acolhe as famílias também. Têm famílias que encaminham as pessoas para a instituição para comer, para tomar um banho e socializar. Aqui elas são tratadas como iguais e lá fora um pouco diferente. Aqui não é um hospital, um internato… É uma casa de acolhimento.
Quais as suas expectativas para esse mandato, agora como presidente da APAE?
Não são expectativas, são desafios e algumas frentes que precisamos seguir. A primeira frente que precisamos entender é que a APAE precisa cada vez mais controlar as suas contas. Essa parte de controladoria e governança ´queremos dar continuidade. Em contrapartida disso teremos que buscar recursos para suprir algumas necessidades técnicas, não só operacionais. Dentre elas é o Centro de Atendimento ao Autismo, que é uma das áreas que vem crescendo muito, principalmente agora com a pandemia. A grande vinda de pessoas com esse diagnóstico, ou a necessidade desse diagnóstico, é gigantesca. Estivemos recentemente na Secretaria de Saúde e existe uma demanda desde 2019 de diagnóstico, não é nem de atendimento. Temos um grupo de avaliação admissional desses usuários e o Núcleo de Atendimento Especializado ao Autista, na área de educação com atendimentos na área de saúde também. A Prefeitura nos procurou e pediu socorro e vamos tentar fechar um acordo para ajudar a suprir essa demanda importantíssima. Queremos retomar a Ecoterapia, a infraestrutura de embarque e desembarque precisa ser construída. Penso que o maior desafio que a APAE tem é operacional, é dinheiro para tocar os serviços.
Quando a atual diretoria, presidida pelo Agenor, entrou em 2017 existia um problema com alguns municípios que encaminhavam usuários para a APAE, mas não ajudavam com repasse, como está isso hoje?
A APAE atende pessoas de Franca e mais 12 municípios e hoje todos ajudam. No início foi feita uma conscientização junto as cidades sobre a importância desse aporte e hoje ela é feita por todas, sem qualquer problema. A atual diretoria fez esse trabalho e isso foi muito importante. É importante também esclarecer que todos aqui somos apartidários e recebemos de braços abertos todos os políticos, independente do envolvimento partidário. Aqui ninguém tem pretensão política, muito pelo contrário. Não tenho o mínimo perfil para isso e as atenções estão todas voltadas para a APAE.
A diretoria da APAE é voluntária, mas para ocupar os cargos é preciso muita dedicação. Como conciliar a vida profissional e pessoal com a presidência da APAE?
Gestão de tempo. Todos nós precisamos nos adaptar. Por exemplo, eu conto com a ajuda de uma secretária que cuida da minha vida profissional e pessoal. Toda a organização é feita por ela, não só a minha como da minha esposa. Ou seja, existe uma infraestrutura do diretor voluntário para absorver essa responsabilidade, além, é claro, de disciplina. Sem disciplina não é possível. Planejamento é tudo. E repito, o objetivo da diretoria atual é proporcionar que a entidade funcione sozinha. Somos apoiadores. Damos autonomia para a administração, dentro dos limites permitidos pela entidade, para que dependam o mínimo possível da diretoria. Contribuímos para a entidade funcionar no âmbito da gestão e da influência. Essa influência que temos junto ao comércio, indústria e com os políticos também. Somos apartidários, mas dependemos a verba que vem dos deputados, do Município, Estado e verba Federal. Precisamos andar de mãos dadas com todo mundo, tendo a APAE como o centro de tudo.
A APAE de Franca tem centenas de funcionários, assim como grandes empresas. Como manter o serviço de uma entidade desse tamanho o melhor possível?
Governança. Contratamos uma fundação para nos ajudar a profissionalizar essa administração da APAE. Na verdade, temos muitas pessoas técnicas na coordenação, que são muito profissionais, mas essa diretoria trouxe essa mentalidade da necessidade de capacitar os colaboradores na área da gestão. Foi primeiro uma iniciativa da Federação das APAEs, que começou com esse movimento, e a APAE de Franca de pronto enxergou como uma grande oportunidade de capacitar esse grupo que tem muita vontade de fazer as coisas bem feitas. Hoje com esse projeto desenvolvemos um planejamento estratégico, a longo e médio prazo, desde 2018. É uma gestão desafiadora.
A APAE Franca presta serviços nas áreas de educação, saúde e assistência social e atende mais de 1,2 mil pessoas e é conhecida pela excelência que presta esses atendimentos. Como isso é possível?
Dedicação e responsabilidade. É o básico. Se você quer prestar um bom serviço, tenha boas pessoas ao seu lado, melhores que você. É como eu faço na minha empresa. Ela só é um sucesso porque têm pessoas melhores do que eu, por isso ela vai bem. Aqui temos o mesmo pensamento corporativista.
Sabemos que a maioria das entidades enfrentam problemas para manter os serviços apenas com os recursos que recebem do poder público, seja municipal, estadual ou federal. Como a APAE Franca consegue?
Primeira coisa é o bom relacionamento. Com o Poder Público, seja Estadual, Federal ou Municipal. Neutralidade sempre, precisamos manter isso sempre, recebendo todos de braços abertos aqui e a transparência nos números e no trabalho para podermos ter formas de chegar no empresário e ele ter a certeza de que o dinheiro está indo para o lugar certo.
Como a população pode ajudar nesta questão e colaborar com a APAE?
A capitação é um desafio gigantesco. Temos desde a senhorinha que é aposentada e doa R$ 5, o telemarketing que consegue doações mensais, que é tradicional. Além de participar das nossas festividades, como a San Gennaro, Leilão… O empresário acreditar no nosso trabalho. A APAE depende da gente. As pessoas podem doar também entrando em contato pelos telefones (16) 3712-9738 e pelo WhatsApp (16) 99996-3214.
A APAE de Franca completa 53 anos agora em janeiro de 2023. Qual a importância desse trabalho de inclusão realizado pela entidade?
O impacto social. A saúde e a educação são importantes, mas o aspecto social é o mais abrangente. Aqui na APAE atendemos a pessoa e sua família, então é uma abrangência enorme exatamente por essa multidisciplinaridade. Inclusão, é isso que a APAE busca e trabalha.
Qual você acredita que será seu maior desafio como presidente da APAE Franca?
Controle das despesas é claro que é um desafio enorme. Não conseguimos fazer 100% do custo da operação da APAE, mas quero que ela mantenha sua linha de equilíbrio. Hoje as coisas estão muito caras e reflete em tudo. Manter o equilíbrio nas despesas é um desafio gigantesco. Buscar a sustentabilidade.
O que podemos esperar da sua gestão como presidente da APAE Franca?
Transparência. Em todos os sentidos, em todos os momentos, em todos os processos.