Fernando Lima
Um levantamento feito com exclusividade pelo Jornal Verdade, apontou que em um ano de pandemia o Procon de Franca registrou 237 reclamações contra os serviços prestados pela CPFL na cidade. Inconsistência no histórico de consumo; corte sem aviso prévio; consumo acima da média mensal; parcelamento de débitos e danos elétricos encabeçam as reclamações dos francanos.
Nos quatro primeiros meses deste ano, um dos períodos mais críticos da pandemia no nosso país, as reclamações sobre os serviços da CPFL cresceram, foram 86, enquanto que nos quatro primeiros meses de 2020 elas somavam 80, um aumento de 7,5%.
Não são poucas as queixas contra os trabalhos, o coordenador do Procon de Franca, Luis Murari, avaliou que isso significa que o consumidor está mais exigente por um serviço melhor. “A pandemia enfraqueceu o poder aquisitivo das famílias, principalmente as que já tinham uma vulnerabilidade maior. Ao mesmo tempo essas empresas que prestam serviços essenciais como é o caso da energia, continuam trabalhando normalmente agora, enviando nomes para o Serasa, mandando cortar o fornecimento. É um contraste muito grande”, afirmou.
As reclamações contra os serviços prestados pela CPFL em Franca foi tema de grande debate na Câmara Municipal. O vereador Pastor Sérgio Palamoni, cobrou em uma das suas falas que a empresa cumpra a lei que proíbe o corte de fornecimento de energia às sextas-feiras. De acordo com ele vários munícipes procuram a Casa de Leis queixando do corte, especialmente as famílias de baixa renda.
“A lei está em vigor e a CPFL tem que cumprir. As pessoas querem ter compreensão em um momento tão difícil, porque é muito complicado ficar sem energia. A gente entende que a empresa cumpre o seu trabalho, mas em um momento de pandemia esperava-se mais sensibilidade. Muitos estão sem trabalho, tiveram diminuição de renda e existem relatos de pessoas que com 15, 20 dias de atraso já sofrem pressão e cobranças com o risco de corte. É uma situação muito difícil”, pontuou Palamoni.
Este não foi o único tema de discussão no plenário. O vereador Zezinho Cabeleireiro apresentou um requerimento repudiando os serviços prestados pela fornecedora. “A CPFL durante muitos anos manteve em Franca-SP um escritório regional para o atendimento ao público. No entanto, todo atendimento prestado pela CPFL foi transferido para a cidade de Ribeirão Preto ou pelo atendimento pelo telefone 0800-101010, ficando em Franca apenas uma parte do escritório que se resume a realizar apenas chancelas de atos praticados pelo atendimento precário do 0800-101010. A ausência do posto de atendimento da concessionária tem causado grande descontentamento, transtornos e inúmeras reclamações de nossos munícipes, usuários do serviço”, destacou.
O parlamentar apontou ainda que a falta do escritório prejudica mais uma vez as famílias mais carentes de Franca, já que elas são as que mais usam o serviço de parcelamento de dívidas que era feito anteriormente no escritório. “Submeto à alta apreciação do Plenário, a presente Moção de Repúdio à Companhia Paulista de Força e Luz, pelo péssimo atendimento que vem prestando à população de Franca”, finalizou.
Atualmente o corte no fornecimento de energia permanece proibido, mas apenas para as famílias que estão incluídas no programa “Tarifa Social”. Isso tem causado problemas que mais uma vez atingem justamente as pessoas que mais precisam.
É o caso do vendedor Alan Danilo, ele é morador da Vila São Sebastião na zona oeste da cidade e trabalha em uma loja de um shopping de Franca. Alan possui um salário fixo, mas as vendas garantem uma boa comissão, o que agora não acontece mais, o resultado foi uma diminuição brutal dos rendimentos dele. Na última semana o francano teve a energia de casa cortada.
“Foi uma situação triste demais, eu sempre paguei todas as contas em dia mas anda muito difícil. A minha esposa é cabeleireira e também está parada sem rendimento algum. Eu estava com duas contas atrasadas e um dos motivos foi o fechamento das lotéricas em Franca. Eu estava saindo para fazer o pagamento na segunda-feira quando encontrei com o funcionário da CPFL que ia fazer o corte. Eu avisei para ele que estava indo pagar, mas não adiantou, eles cortaram”, contou.
Alan, a esposa e as crianças deles ficaram quase 24h sem energia. O resultado foi a perda de alimentos que são caros a eles, como feijão e leite. “Doeu muito isso”, finalizou o vendedor.
A advogada de Franca, Patrícia Marchezin confirmou que no caso do corte com atraso não existe nada de ilegal feito pela empresa quando a família não está incluída no programa “Tarifa Social”. Para ela faltam políticas públicas que incluam na proibição do corte as famílias que perderam renda e emprego por conta da pandemia.
“O Estado tem que ser o garantidor de que essas famílias também tenham o pleno acesso a esses serviços básicos, como energia, água e alimentação. Elas deveriam também ser incluídas em um programa parecido, existe muita gente nessa situação porque está impedida de trabalhar”, explicou.
A CPFL foi procurada pela reportagem do Jornal Verdade, através de e-mail e telefone, mas até o fechamento desta edição nós não tivemos um posicionamento da empresa a respeito do assunto.
Nesta segunda-feira (12), a CPFL respondeu a matéria do Jornal Verdade. Confira a nota na íntegra:
“A CPFL Paulista esclarece que segue as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e, em caso de desligamento no fornecimento de energia, os clientes recebem aviso com, no mínimo, 15 dias de antecedência para que possam se regularizar por meio das facilidades disponíveis nos canais de atendimento da distribuidora. A empresa não realiza corte às sextas-feiras e vésperas de feriados.
Para auxiliar os clientes, a empresa oferece condições de pagamento diferenciadas, como pagamento via cartão de crédito, Pix, auxílio emergencial e parcelamento em até seis vezes por meio de boleto. As opções estão disponíveis no aplicativo CPFL Energia (com navegação gratuita), site www.cpfl.com.br, SMS 27351 e 0800 010 1010.
A CPFL informa ainda que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou medidas a serem implementadas pelas empresas distribuidoras de energia, para adequar alguns aspectos da prestação de serviço ao momento atual de agravamento da pandemia do coronavírus (COVID-19). Até 30 de junho, o corte de fornecimento de energia por falta de pagamento foi suspenso para os clientes cadastrados no benefício de baixa renda, conhecido como Tarifa Social. Também está vedado o corte de energia de unidades consumidoras com equipamentos vitais à preservação da vida e dependentes de energia elétrica, além de unidades de saúde, a exemplo de hospitais e centros de produção, armazenamento e distribuição de vacinas.
Em relação às reclamações registradas no Procon, a CPFL Paulista informa que todas são respondidas no prazo estabelecido pelo órgão.”