Uma viagem ao Brasil para conhecer as belezas do país que chamam a atenção de quem vem de fora: esse era o planejamento de uma jovem estudante dos Estados Unidos durante a temporada na faculdade. Porém, os problemas causados em diversos setores em todo o mundo pela pandemia do novo coronavírus adiaram essa diversão e deixaram o passeio com características diferentes.
Pamela Cristina Moreira, de 22 anos, natural de Franca e Victoire Panattoni, de 20, são melhores amigas na UTRGV- University of Texas Rio Grande Valley, local onde estudam juntas e praticam o que mais gostam de fazer: jogar vôlei. A brasileira construiu uma bela amizade com a moça de tripla nacionalidade, já que tem o pai de Camarões, a mãe italiana e nasceu na França. O fato de ambas serem estrangeiras foi fundamental para a aproximação.
As jovens contam que, no início da pandemia, a universidade tomou a decisão de liberar todas as turmas para que cada uma fosse embora em busca de diminuir os riscos de contaminação. Victoire que atualmente mora na França com a mãe foi impossibilitada de voltar para casa, já que na oportunidade, ainda em meados de março, o país europeu já estava em estado avançado da pandemia, enquanto o Brasil iniciava o cenário negativo.
Por conta dos riscos, viajar dos Estados Unidos para a França estava praticamente impossível. Desta forma, como Pamela precisava voltar ao Brasil, surgiu a oportunidade de trazer a parceira de aulas e esporte. Já se passaram dois meses da chegada das meninas e, até o momento, não foi possível o retorno à Europa.
A passagem no Brasil não está sendo como Victoire esperava, já que não pode ir aos lugares que sonhava por conta da pandemia. Mas isso não é tratado como um problema pela jovem. Segundo ela, em comparação com os locais de origem, a proximidade se dá com o país africano. “A comida local, pessoas bacanas e a cidade é limpa. Tudo isso lembra Camarões. Os pontos são verdes e é uma cidade calma. Mas aqui ainda é mais organizado que lá”, disse.
Pamela é mais experiente nos Estados Unidos. Há dois anos estudando e disputando as competições esportivas, ela ainda terá a oportunidade de jogar mais duas temporadas por lá. Já Victoire deu início às atividades no meio do ano passado. Elas afirmam que logo de cara se deram bem e, atualmente, se dizem melhores amigas. “A gente mora uma do lado da outra. Quando ela chegou já peguei amizade e, por ser menina nova, começamos a conversar mais e passar tempos juntos. Posso dizer que estamos todo o tempo juntas”, disse a francana.
Mesmo com todas as dificuldades, Victoire está com passagem comprada para retornar à França. Se tudo correr bem, isso deve acontecer no final deste mês. Existem os riscos de cancelamento dos voos, mas a jovem aguarda com ansiedade para voltar para casa. Emocionada, ela fala com poucas palavras sobre a saudade que sente da mãe. A vontade de estar próximo de quem ama está prestes a acontecer.
Demonstrando ser fã do esporte brasileiro, Victoire elogia os resultados que o vôlei já conquistou e afirma que jogar por aqui seria difícil para ela, já que o nível é alto e as dificuldades poderiam aparecer. Mesmo assim, não descarta que isso possa acontecer no futuro. Mesmo com a experiência “forçada”, a garota fala com entusiasmo sobre o Brasil e que em breve deve voltar para conhecer os lugares que sempre sonhou.
Nascida em Franca e com a mãe envolvida no esporte local, Pamela diz que o vôlei ainda não tem a valorização necessária na cidade para ter a modalidade desenvolvida como acontece em outros lugares. Mesmo com o crescimento recente e a chegada na série B da Superliga Feminina, a sensação é de que algumas barreiras ainda precisam ser ultrapassadas.
‘O time aqui quer, as meninas querem e lutam para isso. Você percebe que são meninas que querem jogar, ser profissional e ter isso para avida. Mas Franca não tem nem patrocínio. Como as pessoas vão querer seguir o vôlei se não tenho condições de jogar e estudar, tudo isso é difícil. Esse foi um dos motivos que me fez ir para os Estados Unidos. Lá eu posso ser formada e quando minha carreira de atleta terminar eu posso ter o que fazer”, disse Pamela.