Compostos orgânicos chamados tiofenos, encontrados aqui na Terra em carvão e petróleo bruto, foram descobertos pelo rover Curiosity em Marte. A NASA já havia confirmado a existência de moléculas orgânicas em rochas marcianas, mas, com a mais recente descoberta, pesquisadores trabalham com a hipótese de que essas moléculas surgiram no Planeta Vermelho através de processos biológicos envolvendo bactérias.
Isso significaria, em outras palavras, a confirmação de vida antiga em Marte, ainda que apenas microbiana. Schulze-Makuch e Jacob Heinz, autores de um novo estudo publicado na revista Astrobiology, analisaram possíveis cenários que teriam criado os tiofenos — e derivados — em Marte. Eles identificaram possibilidades biológicas “que parecem mais prováveis que as químicas”, mas reconhecem que ainda precisam de provas para fazer uma afirmação tão importante quanto essa. É que processos abióticos, ou seja, sem envolvimento de bactérias, também podem ter formado essas moléculas.
Entre os processos abióticos que poderiam explicar a presença dos tiofenos, estão a sedimentação e impacto de meteoros. As moléculas também podem ter sido criadas através da redução termoquímica de sulfato, um processo que envolve um conjunto de compostos que são aquecidos a 120 graus Celsius ou mais.
No cenário biológico, as responsáveis seriam bactérias que podem ter existido em Marte há mais de três bilhões de anos, quando o Planeta Vermelho era mais quente e úmido. Esse contexto poderia facilitar um processo de redução de sulfato que resulta em tiofenos. Existem também outras maneiras em que os tiofenos são decompostos por bactérias.
Mas não temos uma resposta rápida. Dirk Schulze-Makuch explica que, tratando-se de Marte, é preciso ter cuidado com esse tipo de análise. “Se você encontrar tiofenos na Terra, você pensaria que eles são biológicos, mas em Marte, é claro, o critério para provar que isso precisa ser um pouco maior”. E como descobrir se a molécula é biológica ou não? Com análise isotópica do material.
Segundo os autores do estudo, “os organismos são ‘preguiçosos’; eles preferem usar as variações de isótopos leves do elemento porque isso lhes custa menos energia”. Isótopos são versões variadas dos elementos químicos que possuem números diferentes de nêutrons, resultando em diferenças na massa. Os organismos alteram as proporções de isótopos pesados e leves nos compostos que produzem, diz Schulze-Makuch, que chama isso de “um sinal revelador da vida”.
Infelizmente, o Curiosity não é capaz de realizar uma análise isotópica, mas o rover Rosalind Franklin, veículo exploratório previsto para ser lançado rumo a Marte em julho de 2020 com a missão ExoMars, será equipado por um instrumento chamado Mars Organic Molecule Analyzer, que permitirá a coleta de moléculas maiores. Schulze-Makuch e Heinz recomendam o uso dos dados coletados pelo veículo para examinar os isótopos de carbono e enxofre.
No entanto, mesmo que o Rosalind Franklin forneça uma evidência isotópica, ela ainda não será suficiente para provar definitivamente que já existiu vida em Marte. “Como Carl Sagan disse, ‘reivindicações extraordinárias exigem evidências extraordinárias'”, lembra Schulze-Makuch. “Acho que a prova realmente exigirá o envio de pessoas para lá, e um astronauta que olhe através de um microscópio e veja um micróbio em movimento”, opina.
Fontes: Phys.org | Canaltech