A iniciativa do governo federal de impedir beneficiários de programas sociais de usar plataformas de apostas esportivas deve ter o efeito contrário. Pesquisa encomendada pela Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) revela que quase metade desses usuários (45%) pretende migrar para o mercado clandestino para continuar jogando, se houver a mesma proibição. A medida está prevista para entrar em vigor no próximo dia 1º.
O levantamento foi feito entre os dias 15 e 18 de outubro pela Cruz Consulting, exclusivamente com beneficiários de programas sociais, e traçou um perfil do jogador: a maioria (70%) é composta por homens e a principal faixa etária (40,8%) é de 25 a 34 anos.
Para a ANJL, os dados acendem um alerta. A proibição vai fortalecer a indústria ilegal de jogos, que já representa quase 60% do mercado de apostas do país. “Proibir não resolve. Não é efetivo, além de incentivar o fortalecimento dos sites clandestinos, que são, atualmente, o grande problema a ser resolvido pelo governo federal. São 80 empresas reguladas pelo Ministério da Fazenda, que operam de forma transparente e regulada, e outras milhares que funcionam sem autorização e livremente. O caminho mais eficaz é a educação e o uso de ferramentas tecnológicas que garantam o jogo responsável”, afirma o presidente da ANJL, Plínio Lemos Jorge.
A pesquisa mostrou também que a maioria dos entrevistados (73,4%) apoia a regulação do setor pelo governo. A divulgação dos dados acontece um mês após o envio da Nota Técnica pela ANJL à Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), do Ministério da Fazenda, alertando sobre a preocupação com a migração dos apostadores beneficiários para o mercado ilegal.
No documento, a entidade lembrou que a decisão do STF, nas ADIs 7721 e 7723, proibiu apenas o uso dos valores dos benefícios sociais em apostas, e não o ato de apostar com recursos de outras fontes. Para a ANJL, o bloqueio automático de CPFs de beneficiários do Bolsa Família e do BPC vai empurrar os apostadores para o mercado clandestino, como mostrou a pesquisa.