O Brasil deixou de ser apenas o país do futebol. Além de outros esportes como basquete e vôlei, outra modalidade tomou conta do país nas últimas décadas: o futebol americano. De acordo com dados da própria NFL, no último Super Bowl, realizado em fevereiro de 2023, a audiência global entre Kansas City Chiefs e Philadelphia Eagles foi de 56 milhões de pessoas – um aumento de 7% em relação a 2022. Somente no Brasil, 2,5 milhões de pessoas assistiram à decisão, incluindo uma audiência média de mais de 500 mil fãs. Os números representam um aumento de 19% em relação ao ano anterior e a maior audiência do Super Bowl no país em pelo menos uma década.
A liga programa a realização de um jogo da temporada regular da NFL no Brasil em 2024, já que o país é considerado um dos principais mercados de captação de novos negócios e receitas. O evento, que acontecerá em São Paulo, deve movimentar cerca de US$ 60 milhões (aproximadamente R$ 291 milhões) segundo a estimativa da SPTuris.
Em Franca

O atleta Marcos Soares, presidente do FEAC Franca Carrascos, enxerga um aumento exponencial da visibilidade do esporte em Franca e tem esperanças de que o sucesso que o futebol americano vem tendo no Brasil reflita também na cidade. “O Brasil é o terceiro país que mais consome futebol americano, Além desse dado chegar em teoria pra gente, a gente vê isso. Porque direto, a gente anda na rua e vê uma pessoa com uma camisa de futebol americano, então a gente percebe que a pessoa é fã do esporte. E isso aumentou muito nos últimos tempos. A gente vê que o Brasil realmente consome futebol americano. A gente tem um patrocinador que é a New Era, que vende camisas de futebol americano licenciadas, então eles também passaram esses dados pra nós que teve um aumento exponencial em consumo do futebol americano”, afirma.
Marcos entende que a influência dos Estados Unidos no mercado comercial de futebol americano é correlata à possibilidade de comercialização de itens da comunidade local, com seus times. “A pessoa que gosta do futebol americano, lá de origem dos Estados Unidos, compra uma camisa e tal, e vê também o Franca Carrascos vendendo camisas para o torcedor. Ele também vai querer consumir! A gente também teve essa procura em 2023. Foi o ano que a gente mais vendeu camisas de torcedor”, destaca Soares.
O atleta afirma ter sentido a resposta do público em consumir a modalidade, especialmente pelo último amistoso que realizaram: “outro dado também que a gente consegue perceber, nitidamente, esse aumento do consumo, é que o nosso último amistoso teve um recorde de público, uma média de 850 pessoas. Então isso faz a gente entender também que o futebol americano está alcançando bastante pessoas e a gente faz o nosso trabalho tão bem, então une tudo né. A grande mídia e a nossa mídia faz com que o torcedor se identifique lá e aqui”.
Flag Football

Não somente o esporte tradicional, o Flag Football que é uma versão do esporte com adaptações, vêm aos poucos consolidando seu público na cidade de Franca-SP. Mateus Oliveira é presidente do Mustang’s Flag Football e traz ao Verdade sua visão a respeito da modalidade. Com sua equipe montada há dois anos, Mateus vê ainda uma certa barreira a ser superada em razão da falta de patrocínio para que o clube possa ser ampliado. Mesmo assim, muita coisa já foi conquistada de lá pra cá.
“Na nossa percepção, de uns dois anos pra cá, houve um aumento, um crescimento nas vendas. Porém, isso fica mais isolado em grandes centros, como a capital São Paulo, principalmente. Já pro interior isso é mais difícil de acontecer, ainda mais aqui em Franca, que o basquete tem muito mais adeptos do que até o próprio futebol, né, até o próprio ‘soccer’ que a gente costuma chamar”, declara Mateus.
Sobre se a gente percebeu essa mudança, o nosso programa vai fazer dois anos de existência. Em questão de visibilidade, a gente teve, sim, no ano passado, um grande salto de visibilidade, ainda mais com que, agora, a modalidade do flag 5×5 se tornou um esporte olímpico, né? Então, trouxe um pouco mais de visibilidade para o esporte, muitas pessoas não conheciam e tal. Mas é só esse tipo de visibilidade também. Já aproveitando o gancho sobre patrocínio, a gente não teve um aumento significativo por procura mesmo de parceria, de patrocínios e tal, não teve. E isso acontece devido a estar no interior do estado. Se a gente estivesse provavelmente em uma capital ou uma cidade maior, a gente com certeza teria aí um apoio maior.
Crescimento das equipes
Falando de jogo e equipe, as equipes evoluíram bastante com o passar do tempo. No caso do FEAC Franca Carrascos, o time caminha para os nove anos de existência em 2024. Especificamente no modelo tradicional, o Carrascos é a única equipe da cidade. Seu presidente, Marcos Soares, vê um desafio muito grande na propagação desse esporte.
“A gente entende que a evolução é ano a ano, e eu acho que a nossa maior vitória são esses oito anos de história, porque em oito anos eu, como presidente, como conheço bastante dos bastidores de futebol americano, a âmbito nacional, eu vi muitos times começarem e acabarem nesses oito anos. Time grande, time pequeno, time conhecido, time desconhecido. Então eu passo para a minha diretoria, para a minha comissão, para os atletas, que a nossa maior vitória, a nossa maior evolução é existir nesses oito anos”, aponta Marcos.
De acordo com o atleta, a evolução vem se concretizando dentro e fora de campo. “No ano passado, foi a primeira vez que a gente chegou nos mata-matas do Campeonato Paulista da 2ª Divisão, que é a Série Ouro que a gente disputa. Primeira vez em 8 anos que a gente chega nos play-offs. E fora de campo, Franca é o terceiro time a ter um campo próprio de futebol americano no estado. Talvez até do Brasil também, que é o campo que tem aquele Y amarelo, que as pessoas veem que é próprio do futebol americano. Então o nosso campo conta com essa estrutura que também é rara no Brasil, esse apoio. A prefeitura nos deu um campo para mandar jogos e a gente treinar. Então a evolução ela se dá dentro e fora de campo, uma complementa a outra”, relata o presidente do Carrascos.
De um lado e de outro
Pelo Flag Football, Mateus Oliveira analisa: “A gente evoluiu bastante no último ano, como eu falei. A gente conseguiu montar uma comissão sólida, um plantel de atletas sólidos também. E a gente busca renda para poder disputar o estadual, que é a maior competição do Brasil hoje em dia falando de flag. o Campeonato Paulista é o maior do Brasil, porém é o mais caro e, como a gente ainda é um programa pequeno, não temos um patrocínio. Todos os custos que temos, tiramos do próprio bolso, desde a taxa de inscrição, como viagens, como sediar jogos em casa… O único apoio que a gente tem com a Prefeitura é a questão de disponibilização de um campo pra gente poder estar jogando, mas todos os outros custos que temos, alimentação, viagem, é tudo do nosso bolso”.
Ainda sobre as parcerias, Oliveira afirma: “tivemos um crescimento legal, a gente conseguiu fechar algumas parcerias. Não teve nenhum tipo de renda, mas elas agregaram muito. Hoje, atualmente, o nosso grupo, os nossos atletas, têm apoio com psicólogo, com nutricionista, com preparador físico. A gente tem todo esse apoio para não só pensar numa parte esportiva, mas também no desenvolvimento humano”. E conclui: “a gente também tem fisioterapeuta que faz acompanhamento, prevenção de lesão. E ajuda muito também, como eu te falei. A gente não visa só o esporte, né? O esporte é só uma ferramenta que a gente utiliza para desenvolvimento humano. E isso se enquadra dentro da nossa filosofia”.